Presidente da Câmara nega ter nomeado evangélica para diretoria com maior orçamento da Casa por afinidade religiosa. Setor comandado por servidora tem dotação orçamentária de R$ 4,1 bilhões.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou ter nomeado a nova diretora de Recursos Humanos da Casa, a teóloga e advogada Maria Madalena da Silva Carneiro – evangélica como ele –, por afinidade religiosa. Segundo o peemedebista, qualquer questionamento sobre a indicação da servidora para o cargo é “discriminação”. “Não nomeio ninguém por causa de credo religioso, e nem deixo também de nomear pelo credo”, disse Cunha ao Congresso em Foco. “E não sei, nem quero saber, a religião de qualquer um que trabalha lá [na Câmara], porque isso não é critério”, acrescentou.

Com 31 anos de Casa, mas sem qualquer experiência na área de recursos humanos, Maria Madalena disse à reportagem que o presidente da Câmara agiu como um “instrumento de Deus” ao indicá-la ao posto. Do ponto de vista político, a Diretoria de RH só está abaixo da Secretaria-Geral da Mesa e da Diretoria-Geral. A primeira tem papel determinante em todo o processo legislativo. A segunda é a mais importante instância administrativa da Câmara.

O setor comandado por Maria Madalena é responsável pela maior dotação orçamentária da Casa: nada menos do que R$ 4,1 bilhões por ano. Ou seja, mais de 80% do orçamento da Câmara para 2015. O último trabalho dela consistia basicamente em guardar os livros nas estantes da biblioteca. Anteriormente, ela era responsável pela emissão de segunda via de crachás – tarefas de complexidade muito menor que a de diretora de Recursos Humanos.

Uma semana antes de escolher Maria Madalena para a sua equipe, Eduardo Cunha obteve do plenário a aprovação de projeto de resolução da Mesa Diretora que dá ao próprio presidente da Câmara o poder de escolher o secretário de Comunicação Social da Casa entre os deputados no exercício do mandato. O escolhido para chefiar a estrutura de comunicação da Câmara – que inclui serviços de TV, rádio, mídia impressa e internet – foi o deputado Cleber Verde (PRB-MA), que, a exemplo de Cunha, integra a chamada bancada evangélica. O PRB é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

[b]Culto na Câmara
[/b]
O que há em comum entre Eduardo Cunha, Cleber Verde e Maria Madalena é que os três costumam participar de cultos evangélicos nas dependências da Câmara, junto com outros parlamentares e servidores evangélicos. No último dia 11 de fevereiro, a página de Cunha na internet reproduziu material atribuído à Agência Câmara Notícias noticiando a participação do presidente da Câmara em um desses cultos. Na ocasião, Cunha “agradeceu o apoio, praticamente unânime, dos deputados evangélicos na disputa pela presidência da Casa” e ouviu do coordenador da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), o compromisso de lealdade e respaldo político.

“Também acho que só querer qualificar qualquer servidor pela sua condição já é, da parte de vocês [imprensa], discriminação. Não me parece que vocês estão levantando a religião de qualquer funcionário para divulgar”, acrescentou Eduardo Cunha.

O deputado disse ainda que responderia a qualquer pergunta específica do Congresso em Foco a respeito do quadro de servidores da Câmara, mas apenas “sobre qualificação”. “Se não tiver [pergunta específica], não falarei mais sobre isso”, afirmou.

Mesmo sem ter prestado concurso público, Maria Madalena se tornou funcionária de carreira da Casa em razão de dispositivo incluído na Constituição de 1988 que efetivou milhares de servidores que, à época, trabalhavam na administração federal.

É prerrogativa da Diretoria de RH, entre outras, o acesso a toda e qualquer informação referente a cada um dos milhares de servidores da Câmara. Cada um deles reúne uma minuciosa ficha de informações pessoais e funcionais. Assim, ficará à disposição de Madalena o acesso a contracheques, empréstimos e ao chamado passado bancário, entre outras informações, de todos os servidores.

[b]Escolha do presidente
[/b]
Para Maria Madalena, sua escolha é natural e não deveria ser objeto de divulgação jornalística: “Fui professora de vários deputados na universidade. Se eles me indicaram, é porque eles acham que eu sou competente para assumir. Isso uma questão administrativa. Foi escolha do presidente. Na verdade, eu não tenho nada a dizer para ser digno de registro e isso sair em jornal”.

Ela admitiu proximidade com deputados evangélicos: “São deputados que conheço há tempo. Como sou servidora há 31 anos, nada mais justo de que um dia ser [promovida]… Faz parte, vários servidores fazem carreira e um dia chegam a cargos de comando. Toda honra e toda glória seja dada a Deus, primeiramente. Só estou esperando que Deus me ajude e me dê capacidade para fazer jus [à indicação] e fazer uma boa gestão onde fui colocada pelo presidente [Eduardo Cunha]”, finalizou a diretora de RH da Câmara.

[b]Fonte: Congresso em Foco[/b]

Comentários