Uma nova decisão do Sindicato dos Médicos do Egito que proíbe o transplante de órgãos entre cristãos e muçulmanos irritou tanto as igrejas quanto as mesquitas, que temem um aumento da tensão sectária.

“Todos temos o mesmo sangue egípcio. E se a medida tenta proibir o tráfico de órgãos, também discordamos, porque isso também pode acontecer entre fiéis de uma mesma religião”, declarou nesta terça-feira, 19, o bispo Marcos, um dos porta-vozes da igreja ortodoxa copta.

De acordo com as novas instruções do Sindicato dos Médicos – praticamente dominado pelo grupo islâmico Irmandade Muçulmana – não será mais permitido doações de órgãos entre cristãos e muçulmanos. Qualquer médico que viole a norma será interrogado e punido pelo sindicato. “Tudo é para proteger os muçulmanos pobres dos cristãos ricos, que compram seus órgãos”, defendeu o diretor o sindicato, Hamdi El Sayed.

Segundo ele, a proibição tem o objetivo “de impedir qualquer tentativa de enganar os pacientes e lhe roubar os órgãos”, o que poderia levar a uma crise entre os fiéis das duas religiões.

Para Marcos, a decisão do sindicato é “muito grave” porque pode levar a outros passos, como proibir as doações de sangue entre cristãos e muçulmanos ou impedir que um médico examine um paciente de religião diferente. “Temos medo que no futuro haja alguns hospitais para cristãos e outros para muçulmanos”, afirmou o bispo ao explicar a preocupação da igreja, cujos fiéis correspondem a 10% da população egípcia, de mais de 76 milhões da habitantes.

O especialista Abel Moti Bayumi, membro do Centro de Estudos Islâmico de Al Azhar, assegurou que a proibição “instigará a discriminação entre muçulmanos e cristãos que vivem no mesmo pais”. Tanto as igrejas quanto as mesquitas lamentaram que o sindicato adotou a norma sem antes consultá-las. A medida aparece em um momento no qual a convivência entre cristãos e muçulmanos no Egito parece estar cada vez mais fragilizada.

Alguns pacientes que não podem esperar recorreram na justiça. A União Egípcia para os Direitos Humanos (UEDH) decidiu apresentar uma denúncia contra o sindicato, pedindo a anulação da decisão. O diretor da UEDH, o advogado Naguib Gibrael, considerou a medida “discriminatória, que viola os direitos humanos, a Constituição e a unidade nacional”. Ele acusou a Irmandade Muçulmana de estar por trás da nova norma e de “seqüestrar o poder legislativo.”

Fonte: Estadão

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