Basília Rodrigues
CBN
Núcleos religiosos, chapa com candidatos evangélicos e a amizade com pastores serão testados. A esquerda afirma que foi demonizada e quer passar o discurso a limpo. Já a direita quer aproveitar a vantagem alcançada pelo presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições.
Bolsonaro, que não é evangélico, tem ido mais em eventos com pastores e fiéis do que nos do próprio partido, o Aliança pelo Brasil.
“A convite do missionário R.R. Soares estaremos no Aterro do Flamengo. Já é uma tradição e é conhecido como show da fé”, disse.
Lula, que esteve no Vaticano, já apelou para o jeito de pastor, em entrevista à TVT:
“Eu acho que tem espaço para discutir religião nesse país muito grande, eu tenho até jeitão de ser pastor.”
Para os políticos, o voto dos evangélicos nunca foi tão decisivo, e o desafio é fazer com que essa parcela expressiva da população se identifique com eles. Em 2018, os evangélicos representaram mais de 11 milhões de votos na vitória de Jair Bolsonaro à Presidência.
Para a esquerda, nem todo evangélico é igual e é possível virar esse jogo até 2022. Entre tantos, a busca é pelos chamados “progressistas”, religiosos que encarem com menos restrições o debate sobre a diversidade de sexo e gênero, por exemplo, pela defesa de quem é mais vulnerável em uma sociedade, como pobres, negros, crianças e idosos.
A estratégia inclui se aproximar com pastores e políticos, que possam servir de ponte. No Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, do PSOL, tem negociado uma composição de chapa com a petista Benedita da Silva, que é evangélica:
“Tem que conversar com o povo e tem que conversar com o povo evangélico. Eu, por exemplo, me aproximei do pastor Caio Fábio, que foi do Rio de Janeiro, e hoje mora em Brasília. A gente conversa muito. Eu tenho muito contato com alguns setores evangélicos no Rio de Janeiro, mas não necessariamente para escolher um vice porque é evangélico. Mas porque é importante, eles são muito numerosos, são importantes nas organizações familiares, das periferias. É fundamental aprender mais do que conhecer ou falar com os evangélicos mas ouvir os evangélicos”, admite Freixo.
À CBN, a ministra Damares Alves, disse que a expectativa do IBGE de que evangélicos somem mais do que católicos, no Brasil, em pouco mais de uma década, será também de transformação na política. À frente do ministério de Direitos Humanos, a ministra se consolida como uma das mais populares do governo, é cotada para vice de Bolsonaro em 2022, e é a voz da direita:
“Tem temas que a gente não fecha. Mas, por exemplo, havia uma ideia que a esquerda era dona dos direitos humanos. Mas, a gente diz, epa! Direitos Humanos? O maior líder foi Jesus Cristo, quando ele diz ‘proteja a mulher, a criança, cuide de todos’. Percebeu-se que a igreja já faz esse trabalho de proteção e garantia de Direitos Humanos, então a gente converge em muita coisa, nós temos uma pauta ou outra que nos separa. Mas o que nos une na proteção do nosso povo é muito maior do que nos separa”
O senador do PT, Humberto Costa, pontua que esse embate foi dominado pelas mentiras de internet. Muitos religiosos mantém canais virtuais, grupos em redes sociais, para divulgação de vídeos e notícias. Para o petista, há espaço para tirar tudo a limpo:
“Nós vamos procurar nos aproximar. Temos muitos evangélicos no partido, estamos organizando os núcleos evangélicos para discutir que política implementar e como combater isso que foi feito em relação a nós.”
O deputado Sóstenes Cavalcanti, da Frente Parlamentar Evangélica, afirma que as bandeiras de esquerda são uma afronta aos valores que ele defende – o que só mudaria se os partidos fizessem uma revisão de estatutos e conceitos:
“Em menos de um década, será impossível a esquerda reconquistar o povo evangélico. É impossível, eles podem fazer o que for, se pintar de ouro que não vão mais enganar o povo evangélico.”
Para o deputado, a expressão “pastor progressista” não existe.
Fonte: CBN