Uma mulher espanhola vítima de distrofia muscular conquistou oficialmente, nesta quinta-feira, o direito de morrer, algo que reivindicava há anos, após uma decisão do governo regional andaluz (sul), que autorizou o desligamento do aparelho que a ajudava a respirar.

A respiração assistida mantém viva Inmaculada Echevarría, de 51 anos, que há nove anos vive presa a uma cama em um hospital de Granada (sul).

As autoridades regionais tomaram esta decisão depois que o Conselho Consultivo da Andaluzia determinou que o pedido da enfermeira se inscreve na lei sobre os direitos dos pacientes de 2002, que autoriza uma pessoa doente em pleno gozo de suas faculdades mentais se recusar a um tratamento.

As autoridades andaluzas se valeram da decisão positiva do Conselho Consultivo e do Comitê Regional de Ética, que consideram que o pedido da doente se fundamenta no “repúdio ao tratamento”, um direito reconhecido pela lei espanhola que, ao contrário, rejeita a eutanásia.

Em novembro passado, a enferma, que sofre de distrofia muscular desde a infância e está totalmente paralisada, havia voltado a despertar o debate sobre a proibição da eutanásia na Espanha, defendendo perante a mídia uma “morte digna e sem dor”.

“Estou farta de viver assim e de depender de todo mundo, quero uma injeção que paralise meu coração”, disse na época.

“Não é justo viver assim, minha vida é solidão, vazio e opressão. Não aceito que meios (artificiais) me mantenham viva”, acrescentou.

A associação espanhola “Direito de morrer dignamente”, que apóia Inmaculada, comemorou a decisão do governo andaluz, qualificando-a de “corajosa” e esperando que possa “servir de precedente para outros casos similares”.

“Já encontramos doentes desconectados na Espanha, mas é a primeira vez que um deles pede a aplicação deste direito em voz alta”, disse à AFP uma representante desta associação, Aurora Bau.

Bau denunciou a atitude da Igreja Católica, que tenta, segundo ela, assemelhar o repúdio aos cuidados, previsto pela lei, à eutanásia.

O cardeal arcebispo de Sevilha (sul), Carlos Amigo, reagiu à decisão das autoridades andaluzas, declarando-se “contrário a todo tipo de pena de morte, seja legal ou auto-administrada”.

Os socialistas no poder haviam previsto em seu programa eleitoral de 2004 criar uma comissão parlamentar sobre a eutanásia, que ainda não foi formada.

Já confrontado à Igreja Católica sobre várias reformas na sociedade (casamentos entre homossexuais, educação religiosa, divórcio), o governo de José Luis Rodriguez Zapatero disse nos últimos meses que não tinha previsto legislar sobre a questão.

Fonte: AFP

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