Evangélica da Assembleia de Deus e candidata a deputada federal por São Paulo, Marina Silva (Rede) criticou as fake news divulgadas por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PL-SP), de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fechará igrejas caso seja o vencedor nas urnas nas eleições de outubro.
Em entrevista ao site GGN, Marina destacou que Lula foi presidente do Brasil por dois mandatos e que durante os oito anos de governo “nunca fechou igrejas”. Para a ex-senadora, fazer uso da fé para interferir no resultado das eleições é algo “letal” para a democracia, pois “fé e política devem estar separadas”.
O Estado laico é uma benção para todos. Agora, nesse momento, você tem essa manipulação perversa que é péssima para a fé, é péssima para a política. Quando alguém mentirosamente diz que, se o presidente Lula ganhar as eleições, ele vai fechar as igrejas, isso é uma forma mentirosa que desabona a própria fé. Lula esteve no governo por dois mandatos, nunca fez isso, muito pelo contrário. Marina Silva (Rede).
“Muitas dessas pessoas [que dizem que o petista fechará igrejas] até apoiavam a candidatura dele durante os períodos em que esteve no governo. Agora vir com essa história é pura manipulação e mentira. Digo isso porque não acho que mentira deva ser usada contra ninguém”, acrescentou.
Marina Silva lembrou que quando foi candidata à Presidência da República em 2010, 2014 e em 2018, também foi alvo de mentiras em relação à sua fé, com alguns que a chamavam de “fundamentalista” e outros que duvidavam de sua crença. Porém, a ex-ministra salientou que “nunca” fez do “púlpito um palanque, nem do palanque um púlpito”.
Evangélicos não são homogêneos, diz Marina
Em meio à disputa dos candidatos ao Palácio do Planalto pelos votos dos evangélicos, Marina Silva também criticou a “manipulação da fé e da política”, classificada por ela como “muito perigoso para a democracia e para qualquer país civilizado”. Para a candidata, é preciso compreender que essa parcela da população não é homogênea, o que torna necessário aprender a lidar com a heterogeneidade desses fiéis.
“A instrumentalização da fé é muito perigosa. O fundamentalismo religioso e o fundamentalismo político também são muito perigosos. Agora quando se juntam as duas coisas é letal para os interesses de um país, da sociedade e da democracia. Nesse momento a gente vive esse risco. Acho que a gente para entender isso, é preciso tratar os evangélicos não como se eles fossem homogêneos, porque existem diferenças e abordagens diferentes, e você tem que aprender a lidar com elas”, ponderou.
Fake news e intolerância religiosa
Recentemente, o deputado federal e pastor Marco Feliciano propagou notícia falsa em entrevista à rádio CBN, ao dizer que, se eleito, Lula fechará igrejas no Brasil. Segundo o político, “existem muitas formas de se fechar uma igreja, não necessariamente vir com fuzis fechá-la”, mas, por exemplo, “através de criação de leis, de impostos”.
Em resposta à fake news de Feliciano, o PT negou que Lula vai fechar igrejas e lembrou que ele foi o responsável por sancionar a lei da liberdade religiosa, em 2003. Ainda, o partido destacou que foi o ex-presidente quem também aprovou a lei que criou o Dia da Marcha para Jesus, em 2009. Por fim, a sigla ressaltou que o petista “é cristão”.
Também neste mês, a primeira-dama Michelle Bolsonaro praticou intolerância religiosa ao compartilhar uma publicação que afirma que Lula “entregou sua alma para vencer” o pleito. O texto foi acompanhado por um vídeo em que o petista se encontra com lideranças de religiões de matriz africana. Na postagem, Michelle associou os credos africanos a trevas.
A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, esposa de Lula, reagiu ao post preconceituoso da primeira-dama, e disse ter aprendido que “Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito”, independente de qual seja “a religião e qual o credo”.
Fonte: UOL