Representantes das principais correntes religiosas (evangélica, católica e espírita) presentes no estado do Rio Grande do Norte, fizeram declarações, ontem, sobre a envolvimento de vereadores ligados a essas religiões, no suposto esquema de venda de votos investigado pela Operação Impacto.
O diretor executivo da Convenção Batista, pastor Eude Cabral, disse que a igreja recebeu com tristeza a notícia sobre a denúncia do vereador Salatiel de Souza, que pertence à Igreja Batista. Entretanto, ele explica que a igreja separa o indivíduo da atitude. ‘‘Qualquer um está sujeito a cometer erros e pecados. Se ficar provado que ele cometeu o erro, então vai ter pagar pelo erro dele. E a igreja, então, vai trabalhar o indivíduo para que ele seja restaurado’’, disse. Questionado sobre se a igreja o apoiaria como candidato, o pastor argumentou que ‘‘a Igreja Batista nunca se posiciona a favor de candidato A ou B, nenhum que seja. Todos os fieis podem votar em quem quiserem’’.
O pastor da Igreja Casa da Benção, Juarez Martins, igreja do Sargento Siqueira, informou que o vereador já se reuniu com o ministério da igreja para contar sua posição. Segundo o pastor, Siqueira disse que não recebeu dinheiro de propina e que isso é uma perseguição política. ‘‘Nós não o excluímos, nem abandonamos. Se até o dia 5 de outubro for provado que ele é culpado, nós vamos reunir o conselho da igreja para tomar uma posição’’, explicou. O pastor ainda completou dizendo que ‘‘mesmo que ele seja culpado, a igreja vai tratar do seu lado humano, na questão espiritual. E não como uma pessoa que precisa ser crucificada’’.
Já o 1ªsecretário da Assembléia de Deus no estado, pastor Arnon Lima de Santana, igreja do vereador Adenúbio Melo, falou: ‘‘não posso afirmar nada sobre essa questão. Estou fora de política’’. Ele disse que ainda não tinha conversado com o presidente da igreja. O Diário de Natal não conseguiu contactar com o presidente até o fechamento desta edição.
Igreja Católica
O monsenhor Lucas Batista, que chegou a ser alvo de escutas telefônicas que revelaram conversas entre ele e o suplente de vereador Sid Fonseca, às vésperas da votação das emendas ao Plano Diretor, disse que não cabe a ele se posicionar em nome da Igreja Católica, uma vez que ele não exerce, atualmente, qualquer cargo de chefia na Arquidiocese de Natal. O monsenhor reiterou, todavia, que na época foi ‘‘apenas consultado’’ pelo suplente, que queria, segundo Batista, saber a opinião do religioso sobre as emendas que iriam a votação.
O monsenhor também acrescentou que todos os denunciados devem ter oportunidade para se defender. ‘‘Mas isso é apenas minha opinião pessoal. Pela Igreja eu não falo’’, reforçou. As investigações da Operação Impacto, que apura a compra de votos de vereadores, por parte de empresários da construção civil, visando a aprovação de emendas favoráveis à construção de prédios de grande porte na Zona Norte, começaram a partir de denúncias feitas por Sid Fonseca à Procuradoria Geral do Município. Na época, ele disse que vinha sendo pressionado pelo titular de sua vaga, o vereador Adão Eridan, a votar em favor das emendas. Sid acabou denunciado pelo Ministério Público por fazer parte do esquema, juntamente com outros 13 vereadores.
O Arcebispo Dom Matias Patrício disse que não tem conhecimento das supostas ligações do monsenhor Lucas Batista. Além disso, ele afirmou que entende pouco de política partidária e que a Igreja Católica não apoiou ninguém nas eleições. ‘‘A Igreja não tem candidato. Tem orientação. Nós orientamos que cada um vote de maneira livre, consciente e responsável. Porque com isso estamos escolhendo alguém que vai gerir o bem-comum’’, disse. Ele opinou, ainda, dizendo que ‘‘denúncia é uma suposição’’ e que ‘‘se isso está acontecendo, eles vão ter o direito de defesa. Todos têm esse direito, para que ninguém cometa injustiça’’.
Espíritas
Já a presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Norte, Sandra Borba, disse que acompanha as investigações por meio da imprensa, mas que a entidade não vai se pronunciar. ‘‘Não temos ligação com nenhum dos vereadores denunciados. Dos 14, nenhum freqüenta o âmbito da associação’’, enfatiza. ‘‘Até já ouvi dizer que o vereador Aluísio Machado acredita na doutrina espírita, mas nunca tive contato com ele’’, informa.
Fonte: Diário de Natal