O ex-governador cristão de Jacarta Basuki Tjahaja Purnama foi libertado nesta quinta-feira, depois de passar quase dois anos na prisão por blasfêmia, em um caso considerado emblemático do aumento da intolerância religiosa na Indonésia.
Purnama, conhecido como “Ahok”, deixou a prisão de Mako Brimob, ao sul de Jacarta, durante a manhã, informou seu assistente, Ima Mahdiah.
“Foi recebido por seu filho Nicholas Sean Purnama”, afirmou o assistente, antes de informar que o ex-governador passará um tempo com sua família.
Este político foi o primeiro governador não muçulmano da Indonésia – o país muçulmano de maior população do mundo – em mais de 50 anos. Também foi o primeiro procedente da minoria chinesa.
Ele se tornou popular com a adoção de medidas para melhorar o trânsito na capital indonésia, que sofre com gigantescos engarrafamentos, e graças a sua franqueza sobre temas como corrupção e por seu voluntarismo.
Mas sua atitude direta também precipitou sua queda. Em setembro de 2016, o ex-governador afirmou a um grupo de pescadores que a interpretação feita por alguns ulemás (teólogos muçulmanos) de um versículo do Alcorão, segundo o qual um muçulmano só pode votar em um governante desta religião, é equivocada.
As declarações foram gravadas e rapidamente viralizaram, o que levou seus rivais e grupos muçulmanos conservadores a iniciar uma onda de protestos, com manifestações que reuniram milhares de pessoas.
Basuki Tjahaja Purnama foi julgado por blasfêmia e sua popularidade desabou. Em abril de 2017, ele perdeu o cargo em uma eleição vencida por um rival muçulmano.
De acordo com a legislação indonésia contra a blasfêmia, as pessoas condenadas por expressar sentimentos de hostilidade contra a religião podem receber penas de até cinco anos de prisão.
A lei é aplicada, a princípio, à seis religiões reconhecidas oficialmente pela Constituição indonésia: islã, protestantismo, catolicismo, hinduísmo, budismo e confucianismo. Mas a maioria das ações judiciais se referem a pessoas que blasfemaram contra o islã, religião de 90% da população.
Fonte: AFP via Diário Catarinense