Um juiz iraniano ordenou a libertação de dois pastores acusados de “apostasia” (abandonar o islã). Entretanto, os réus disseram que a decisão foi baseada em uma falsa declaração do tribunal de que eles confessaram nunca ter se convertido ao cristianismo.

Mahmoud Matin Azad, 52 anos, e Arash Basirat, 44 anos, foram presos em 15 de maio e absolvidos em 25 de setembro.

Mahmoud disse que eles nunca negaram sua fé cristã e acreditam que a decisão foi uma forma que o juiz encontrou de não condená-los por apostasia, o que acarretaria automaticamente na pena de morte.

Um documento do tribunal, obtido pela organização de direitos humanos Anistia Internacional, declarava: “Ambos negaram que tinham se convertido ao cristianismo e disseram que continuavam muçulmanos; conseqüentemente, o tribunal não encontrou nenhuma prova ao contrário”.

Mahmoud veementemente negou a declaração oficial do tribunal, dizendo que a menção dele ser muçulmano nunca foi levantada durante o julgamento.

“A primeira pergunta que eles me fizeram foi: ‘O que você faz?’. Eu disse, ‘Sou um pastor que lidera uma igreja doméstica no Irã”, disse ele ao Compass. “Todos os meus documentos [do tribunal] são sobre cristianismo – sobre minhas atividades, nossa igreja e tudo mais.”

Durante uma audiência, quando um promotor perguntou a Mahmoud: “Você mudou sua religião?”, ele respondeu: “Eu não tinha religião por 43 anos. Agora tenho uma religião, tenho fé em Deus e estou seguindo Deus”.

Após absolvido, Mahmoud disse que nenhuma razão foi dada pelo tribunal para a liberação dele e de Arash. Opondo-se à alegação de que eles se declararam como muçulmanos, Mahmoud disse que ele falou para seu advogado: “Duas coisas eu nunca faria. A primeira: não mentiria; a segunda: não negaria Jesus meu Senhor e Salvador”.

Os dois homens estão gratos por sua liberação, mas temem que sua liberação seja apenas uma tática do governo iraniano para esperar que voltem às suas atividades cristãs e prenda-os novamente. Sua absolvição pode também colocar todos que tem relações com eles em perigo, disse Mahmoud.

Execução disfarçada

Existe ainda a preocupação de que o governo aja ilegalmente para puni-los, como alguns acreditam que aconteceu no passado. O último caso de uma condenação por apostasia no Irã foi do cristão convertido Mehdi Dibaj, em 1994. Depois de ser solto, Dibaj e quatro outros pastores protestantes, incluindo convertidos e aqueles que trabalhavam com convertidos, foram brutalmente assassinados.

Uma motivação similar pode ter levado o juiz a libertar os dois pastores. Deixar a execução deles para grupos extra-oficiais iria eximir o juiz de pessoalmente ter declarado a pena de morte, disse Joseph Grieboski, fundador do Instituto sobre Religião e Política Pública.

“Mesmo no Irã, nenhum juiz quer ser aquele a declarar pena de morte para casos de apostasia”, disse ele. “A motivação do juiz [nessa audiência] pode ter sido para manter seu prestígio, para possibilitar que mais pessoas sejam presas, ou mesmo para que os dois acusados sejam executados pelas mãos da sociedade, e não do governo. Qualquer uma dessas possibilidades pode ser perfeitamente legítima quando nós falamos sobre o regime iraniano.”

Fonte: Portas Abertas

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