Pesquisa feita em Santo Ângelo e Passo Fundo, duas cidades gaúchas, passou um recado muito claro à Igreja Católica: ela precisa promover mudanças urgentes em alguns conceitos e dogmas, dentre eles a manutenção do celibato, a falta de espaço para as mulheres, o controle da natalidade, a descentralização do poder, a abertura à maior participação dos leigos e jovens.

Os resultados da pesquisa foram apresentados no 1. Fórum da Igreja Católica do Rio Grande do Sul, reunido de 20 a 23 de setembro em Porto Alegre, que tratou da vida e missão da igreja no presente e no futuro. A pesquisa mostrou que as pessoas vêem na igreja um poder institucional que tem dificuldade de se modernizar, “um gigante que poderia atuar com mais eficácia e utilidade, mas que se encontra semi-adormecido”, comentou o padre Rodinei Balbinot, um dos organizadores do levantamento.

O professor Neri Mezadri, do Instituto de Teologia Pastoral (Itepa), de Passo Fundo, disse que a pesquisa mostra a igreja com um elevado grau de credibilidade na sociedade, mas é vista como atrasada, fora da realidade. Ela desenvolve ações concretas na área social, atuando onde entidades civis falham, é um lugar de encontro pessoal com Deus e tem grande importância no desenvolvimento humano.

Em conferência sobre o tema “Mudanças de época, época de mudanças? Novos cenários para a vida e a missão da Igreja no Estado”, o padre jesuíta Inácio Neutzling, diretor do Instituto Humanitas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), disse que a humanidade vive uma revolução profunda e silenciosa. Nesse cenário de mudança, a igreja precisa avaliar que tipo de evangelização é possível. O grande desafio da igreja é salvar a terra e a espécie humana, frisou Neutzling.

Presente no Fórum, o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal dom Cláudio Hummes, frisou que a igreja deve ir ao encontro das pessoas, de modo especial as mais pobres, que enfrentam exclusão e miséria, geradas pela sociedade neoliberal. “Deve ser a igreja do diálogo e da misericórdia”, disse, lembrando que na Conferência Episcopal de Aparecida do Norte, reunida em maio, foi retomada a opção preferencial pelos pobres.

Em outro momento, ao falar para uma platéia de presbíteros durante o Fórum, o cardeal Hummes destacou que “o padre deve oferecer a fé sem descuidar do pão material”, sabendo unir evangelização e justiça social. Afirmou que os sacerdotes precisam de amorosa atenção, “pois a igreja caminha com os pés dos padres”. Mencionou que existem no mundo, hoje, 406 mil sacerdotes, mas que a igreja desejaria um número maior, mostrando-se preocupada com a queda de vocações no Brasil.

Essa carência tem reflexos na ação missionária. O cardeal lembrou que nas duas últimas décadas a Igreja Católica perdeu cerca de 1% de fiéis ao ano no país. “Hoje, no Brasil, os católicos são apenas 68% da população. Devemos ser, em vista disso, uma igreja decididamente missionária em nosso território”, conclamou. “Para nós, nesse momento de crise, quando o número de católicos está diminuindo, precisamos procurar os afastados. Isso não é proselitismo, pois estamos buscando de volta quem nós batizamos”, alegou.

O Fórum iniciou os trabalhos no terceiro dia de encontros com uma oração pela paz, que contou com a participação de representantes do Conselho Cultural Islâmico, da Associação Zen Budista, da Umbanda e da religiosidade afro, da Fé Bahai, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e da Igreja Católica.

Duas mil pessoas participaram da celebração ecumênica que lembrou os 25 anos de fundação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) no segundo dia do Fórum. Na prece de perdão, dirigida por padres e pastores das igrejas Episcopal Anglicana, Metodista, Presbiteriana, Evangélica de Confissão Luterana e da Igreja Católica, o Fórum pediu, a uma só voz, que o poder de Deus “sustente o testemunho do teu povo, teu Reino venha a nós, kyrie eleison”.

Mais de 100 mil pessoas participaram dos quatro dias do Fórum, que teve 101 grupos de trabalho em oficinas temáticas, seis seminários, quatro conferências, celebrações da Palavra e da Eucaristia, manifestações artísticas e culturais.

Em carta dirigida às comunidades católicas e ao povo do Rio Grande do Sul, o Fórum afirma que é urgente repensar os processos da formação de agentes de pastoral da Igreja, a partir das necessidades reais das pessoas, à luz da prática de Jesus, e de inserir a prática da ecologia nessa formação, voltada a uma cultura de respeito e compromisso com o planeta.

“Da participação dos leigos no processo organizativo e estrutural da Igreja repousa a esperança e a efetividade das novas ações decorrentes do I Fórum”, assinala o documento.

Fonte: ALC

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