Uma revista que manifesta as opiniões oficiais no Vaticano acusou os “fundamentalistas muçulmanos” de usarem as polêmicas declarações do papa Bento 16 sobre o islã para alimentar o sentimento anticristão.

O artigo publicado pela Civiltà Cattolica –a revista dos italianos jesuítas– faz parte de uma série de declarações de autoridades da Igreja Católica e de publicações defendendo o papa das acusações recebidas por ele devido ao discurso do mês passado.

Segundo a revista, o teor da palestra proferida pelo papa no dia 12 de setembro na Universidade de Regensburg, na Alemanha, foi usado “por grupos fundamentalistas para incitar o povo islâmico contra o papa e contra os cristãos”.

A revista afirmou que os fundamentalistas “ligaram (as palavras do papa) à suposta guerra do Ocidente contra o islã”, prejudicando bastante as relações entre cristãos e muçulmanos.

O papa já lamentou várias vezes a reação ao discurso, no qual usou citações do imperador bizantino do século 14 Manuel 2. Paleólogo, que criticou a “ordem (do profeta Maomé) de disseminar pela espada a fé que pregava”. Mas Bento 16 não chegou a fazer o pedido de desculpas inequívoco exigido por muitos muçulmanos.

A revista disse que “não há dúvida” de que tanto cristãos quanto muçulmanos vão sair perdendo com a deterioração das relações, especialmente nos lugares em que um dos dois grupos seja minoria.

O texto advertiu que o “objetivo final de vários grupos fundamentalistas, radicais e terroristas” é dar origem a um choque de civilizações.

Os artigos publicados na Civiltà Cattolica são aprovados com antecedência pela Secretaria de Estado do Vaticano, o departamento mais influente da Santa Sé.

Questionado sobre o artigo, o embaixador do Iraque no Vaticano, Albert Edward Ismail Yelda, disse que, pessoalmente, aceitou o esclarecimento feito pelo papa e que imaginava que os fundamentalistas mantivessem suas objeções.

“A explicação dele não foi bem digerida, e como o fundamentalismo e o fanatismo estão se espalhando como fogo, acho que os fundamentalistas vão usar a questão para sustentar sua idéia de que se trata apenas de uma continuação das Cruzadas”, disse o embaixador, que é cristão.

Fontes da Igreja disseram que a mensagem anual do Vaticano para o mundo islâmico, marcando o fim do mês sagrado do Ramadã, no final de outubro, está sendo reescrita para tratar das questões suscitadas pela polêmica.

O Vaticano já disse que a viagem do papa, no fim de novembro, à Turquia, de maioria muçulmana, continua de pé, apesar dos apelos de alguns turcos para que ela seja cancelada.

Fonte: Reuters

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