O arcebispo de São Paulo, Odilo Pedro Scherer, que neste fim de semana receberá o anel cardinalício, participou hoje de uma reunião junto ao Papa e outros cardeais vindos de todo o mundo.

No encontro, discutiu-se o ecumenismo e deu-se destaque ao “compromisso” de prosseguir com a “purificação da memória” e de usar “formas de comunicação que não venham a ferir a sensibilidade dos outros cristãos”.

Odilo Pedro Scherer é considerado no Brasil um líder “moderado”, defensor de uma militância cristã mais ativa e fiel às direções do Vaticano.

O futuro cardeal brasileiro nasceu em 21 de setembro de 1949, em São Francisco, município de Cerro Largo, no Rio Grande do Sul.

Estudou no seminário diocesano de Toledo (Paraná) e no de São José, da arquidiocese de Curitiba, cidade na qual seguiu cursos de Filosofia e Teologia.

A reunião de Bento XVI com os cardeais precedeu o Consistório de amanhã, o segundo de seu Pontificado, no qual serão nomeados 23 novos.

Segundo o Vaticano, os cardeais falaram das “dificuldades” da fé cristã no mundo secularizado e se mostraram favoráveis a uma nova evangelização “que atenda às expectativas profundas e permanentes de felicidade do homem pós-moderno”.

Os reunidos também sublinharam a “urgência” do compromisso da Igreja pela paz, pela luta contra a pobreza e pelo desarmamento, “sobretudo o nuclear”.

Quanto ao ecumenismo, analisaram a colaboração entre os cristãos em defesa da família na sociedade e nos ordenamentos jurídicos.

As relações com os judeus e o Islã também foram tratadas e se destacou favoravelmente a carta enviada em outubro ao Papa por um grupo de 138 sábios islâmicos, afirmando que o futuro do mundo depende da paz entre muçulmanos e cristãos.

O encontro de hoje teve a presença de 143 cardeais, além dos 23 que receberão o capelo amanhã. Foi ressaltado o compromisso ecumênico dos cristãos no campo social e caridoso e na defesa dos valores morais na transformação da sociedade moderna, declarou o Vaticano em comunicado.

A reunião foi celebrada na Sala Nova do Sínodo e começou com uma pregaria à qual se seguiu um breve discurso do decano do Colégio Cardinalício, o ex-secretário de Estado Angelo Sodano, que ao completar hoje 80 anos, deixa de ser eleitor em um eventual Conclave.

Após discurso de Sodano, o Papa introduziu o tema do dia: “o diálogo ecumênico à luz das preces e do mandato do Senhor: Ut unum sint (Para que todos sejamos uma mesma coisa)”, sobre o compromisso ecumênico.

Depois foi a vez do cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, que traçou o atual quadro do diálogo e das relações ecumênicas.

Kasper falou das relações com as Igrejas Orientais e ortodoxas, com as Comunidades Eclesiais nascidas da Reforma do século XVI e com os movimentos carismáticos e pentecostais surgidos especialmente no século passado.

Em referência à união dos cristãos, o cardeal disse que será ainda necessária “uma continua purificação da memória histórica e muitas preces para que sobre a base comum do primeiro milênio (antes do cisma de 1054) seja possível cicatrizar os ‘ferimentos’ entre Oriente e Ocidente e conseguir a unidade plena”.

“A doutrina social da Igreja e sua atuação foram indicadas (pelos cardeais) como um dos campos mais promissores para o ecumenismo, e falou-se do compromisso de prosseguir a ‘purificação da memória’ e de usar formas de comunicação que não firam a sensibilidade dos outros cristãos”, disse o Vaticano.

A “purificação da memória” traz à lembrança o perdão pedido por João Paulo II durante o ano jubilar 2000 pelos danos causados pelos católicos aos outros cristãos ao longo dos séculos.

Na reunião também foi analisada a recente assembléia ecumênica de Sibiu (Romênia), o encontro ecumênico e inter-religioso de Nápoles (Itália) de outubro, a viagem do patriarca ortodoxo russo Alexei II a Paris e outras reuniões ecumênicas realizadas recentemente.

As relações com o judaísmo e o diálogo inter-religioso também foram tratados pelos cardeais.

Kasper disse à imprensa que, para Bento XVI, o ecumenismo “não se põe em dúvida, é um mandato”, e reiterou que o caminho para a unidade dos cristãos ainda é “longo”.

O encontro foi realizado poucos dias depois de o Vaticano publicar o comunicado conjunto aprovado pela Comissão Mista para o Diálogo Teológico entre Católicos e Ortodoxos, que se reuniu em outubro em Ravena (Itália), no qual as igrejas ortodoxas reconhecem o Papa como o “Primeiro Patriarca”, embora discordem dos católicos a respeito da interpretação de suas prerrogativas.

O documento, afirmou o Vaticano, não deve ser entendido como uma “declaração magisterial” e, embora seja importante, já que os ortodoxos reconhecem o Papa como o “Primeiro Patriarca”, “não se deve exagerar, já que o caminho em direção à unidade dos cristãos ainda é muito longo”. Hoje Kasper reiterou esse ponto de vista.

Oriente e Ocidente separaram-se pelo cisma de 1054, com as excomunhões do Papa Leão IX e do patriarca Miguel Celurario, por razões teológicas, como a rejeição dos ortodoxos ao primaz da Igreja Católica Apostólica Romana e à recusa da infalibilidade do Papa.

Os ortodoxos não reconhecem a validade dos sacramentos católicos, ao contrário da Igreja Católica, que admite sim, desde o Vaticano II, os da Igreja ortodoxa.

Os ortodoxos acusam ainda Roma de proselitismo e de tentar expandir-se em territórios que até agora estiveram sob seu controle.

Bento XVI considera a união dos cristãos um dos eixos de seu Pontificado e declarou-se disposto a dar passos efetivos para alcançá-la.

Fonte: EFE

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