Homens de preto ou de branco, de uma religião não identificada, mostravam contrariedade com a obra “Evolução Desumana: primatas em evolução”

Enquanto pintava um painel de 35 metros de largura por seis de altura em um muro de Atenas, Grécia, o artista plástico paulistano Eduardo Kobra, 35, era interrompido frequentemente.

Homens vestidos todos de preto ou de branco, de uma religião que ele não soube identificar, gritavam coisas em grego e faziam gestos com as mãos mostrando sua contrariedade com as primeiras cenas da obra “Evolução Desumana: primatas em evolução”, em referência a Charles Darwin.

Ele prosseguiu com o trabalho, iniciado há 17 dias e quase no fim, quando, na última quarta (10), o que parecia ser o líder desses homens, um idoso com um chapéu, longa barba, anéis e um crucifixo grande no pescoço, se aproximou de forma mais agressiva, colocou o dedo em sua cara, apontou para os macacos soltando palavras incompreensíveis e, sem conseguir uma resposta, deu as costas e foi embora.

“Compreendi a intenção, mesmo sem entender a língua. Se eu pudesse, teria tentado apaziguar.”

No dia seguinte, os macacos desenhados na obra amanheceram rabiscados em tinta branca. Moradores descreveram o tal homem barbudo e disseram que foi ele, em pessoa, que passou a madrugada danificando o trabalho de Kobra.

[img align=left width=300]http://f.i.uol.com.br/folha/cotidiano/images/11224993.jpeg[/img]”Fiquei p***. Não é nada fácil sair do Brasil, vir para Atenas, trabalhar o dia todo, das 9h às 20h, com sol de 40 graus, e ver um trabalho muito difícil pichado.”

Kobra fazia essa pintura a convite de um estudioso das artes de rua grego, Kiriakos Iosifidis, que pagou a viagem, hospedagem, alimentação e um cachê, além de ter conseguido autorização especial da prefeitura para pintar em um muro público, já que o grafite é proibido lá.

Ele disse que foi avisado que na região, próxima ao metrô Pefkakia, norte da cidade, havia seitas religiosas fanáticas. “Acharam uma afronta, mas nem tinha passado pela minha cabeça. A obra não tem nenhum apelo religioso, até porque eu creio em Deus.”

Sua intenção, diz Kobra, era mostrar que os homens estão evoluindo para o mal, ficando mais intolerantes.

Ele ainda não sabe se vai retocar o estrago ou se, ao fazer isso, corre o risco de todo o resto também ser destruído. A polícia foi procurada e uma carta será entregue aos dois templos da região.

“Estamos pintando com medo. Corre o risco de vir um louco pra cima da gente. Você nunca sabe a reação das pessoas.”

Ele trabalha com ajuda do também artista plástico Agnaldo Britto Pereira e, se forem refazer o pedaço destruído, calcula que atrase uma semana –a ideia original era terminar tudo até quarta-feira (17).

Esse é o sétimo painel que ele pinta para o projeto Greenpincel, sobre as agressões do homem à natureza. Recentemente, um desses trabalhos ficou pronto na avenida Rebouças, com a imagem de chaminés soltando muita fumaça. Da Grécia, ele vai para a Holanda e os Estados Unidos, para desenvolver trabalhos em 3D, sua especialidade.

Em São Paulo, sua obra mais conhecida é o mural de 1.000 m2 na avenida 23 de Maio, feito em 2009 no aniversário da cidade.

[b]Fonte: Folha.com[/b]

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