A bancada evangélica na Câmara está sob nova direção e ideologia de sempre. Sai o deputado-delegado João Campos (PRB-GO), entra o deputado-pastor Hidekazu Takayama (PSC-PR).

[img align=left width=300]https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/size_960_16_9_deputado-hidekazu-takayama.jpg[/img]Sua prioridade é clara: são 29 menções à família em uma hora de entrevista no gabinete do novo presidente de uma frente que conta com 188 deputados signatários (cerca de cem deles atuantes).

E não qualquer uma: aquela com homem e mulher, até porque onde já se viu “Adão casado com Evo, ou Eva com Ada”, diz. “Se a Bíblia tivesse [esses casais], só teria os primeiros capítulos. Somos coerentes com as leis naturais.”

O tema está aberto a discussões, vide os confrontos constantes com alas à esquerda no Congresso –em 2015, a deputada Érika Kokay (PT-DF) criticou o Estatuto da Família, que só reconhece a união entre sexos opostos, de “institucionalizar o preconceito”, Takayama afirmou que “homem com homem não gera”, e ela rebateu: “Não gera, mas cria”.

“Por que defendemos o Estatuto da Família com unhas e dentes? Ninguém é dono da verdade, mas entendemos que, se você tivesse dois pais, não estaria aqui, estaria? ‘Ah, mas [gays] podem adotar.’ Ok, mas já se torna uma coisa não natural”, Takayama afirma à Folha.

Mais inquestionável é o aumento da influência evangélica em Brasília nos últimos anos. Na semana passada, o presidente Michel Temer recebeu no Palácio do Planalto parte da bancada da fé. Discutiram maconha, aborto, ideologia de gênero no currículo escolar e se alunos transexuais podem usar o banheiro que preferirem, “eles” ou “elas”.

Os deputados foram taxativos: não, não, não e nem pensar.

Temer disse que, pessoalmente, concordava, segundo relatos. No mesmo dia, o Ministério da Educação divulgou documento que subtrai “identidade de gênero” e “orientação sexual” da nova base nacional curricular, que definirá o que os alunos devem aprender da creche ao ensino médio. As expressões apareciam em texto que o MEC divulgou dois dias antes a jornalistas.

Na véspera da caravana ao Planalto, 13 deputados atenderam ao tradicional culto das quartas-feiras na Câmara, num dos plenários da Casa. Ou melhor, “12 mais um, ou 14 menos um deputados. Não podemos dizer [13], esse número é complicado”, disse o pastor Eurico (PSB-PE) no púlpito improvisado, refletindo escárnio coletivo ao número do PT.

Com a palavra, Takayama, 68, que lidera no Paraná a Cristo Vive, uma das milhares de igrejas sob aba da Assembleia de Deus. “Você é um príncipe, Deus te colocou no Parlamento”, pregou aos colegas. Também os convocou a ser “luz” num momento em que “a sociedade questiona o parlamentar” e criticou jornalistas que os fustigam por recibos “de almoços caríssimos” –comer na capital não é barato, disse.

Em 2016, ele foi 92º deputado que mais pediu reembolso por alimentação, R$ 6.175, num gasto médio de R$ 46,60 por refeição, com gosto particular por palmito assado.

Takayama brinca que, pelos olhos puxados, no Brasil é confundido com um “cearense com conjuntivite”.

Descendente de japoneses budistas, ele se converteu evangélico na adolescência, após “um irmão me falar muito de Jesus”. “No ginásio quase caminhei para as guerrilhas, lá em Osasco, terra do capitão Lamarca. Entre a ideologia de esquerda e os ensinos de cristo, não tem como”, afirma Takayama, que ainda assim se diz de esquerda, “por lutar pelos pobres”.

Um projeto de lei que coassina com colegas evangélicos propõe sustar decreto sancionado por Dilma Rousseff, que “dispõe sobre o uso do nome social de pessoas travestis e transexuais” em órgãos federais, como estatais e universidades –ou seja, uma servidora trans batizada no masculino ter o direito de usar no crachá o nome de mulher.

Outras propostas seguem o viés gospel, como a instituição do Dia da Oração, Adoração e Celebração a Deus e do Conselho Nacional de Ministros de Confissão Religiosa.

Também já dividiu projeto com Jean Wyllys (PSOL-RJ): um pedido, em 2015, de audiência pública para “debater questões relacionadas à vulnerabilidade de brasileiros residentes no exterior, sobretudo mulheres com filhos”.

[b]BRIGA
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Do chamado “baixo clero” da Câmara, em seu quarto mandato na Câmara, o novo líder da frente evangélica virou notícia em 2015 ao brigar com o motorista do então senador do PT Delcídio Amaral, hoje preso na Lava Jato.

Diz o deputado que o funcionário “jogou o carro nele”. Foi tirar satisfações e levou um soco que deixou poça de sangue no chão. Na época, Delcídio disse que Takayama começou a agressão. Ele nega. “Eu, com 1,60 m e pouco, o homem devia ter dois metros, boxeador de MMA… Sou protegido pelo Estatuto do Idoso, querida.”

Uma briga que não comprou: absteve-se na votação que cassou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, condenado na Lava Jato –que Takayama diz gostar, lembrando que um de seus coordenadores, o procurador Deltan Dallagnol, é evangélico.

“Tive um período doente, cirurgia, enfarto. De repente foi nessa época.” A operação aconteceu um ano antes.

Takayama continua: “Tinha simpatia por ele pelo fato de ser evangélico, fiquei muito horrorizado. Até mau apóstolo existe. Jesus tinha Judas, tinha Tomé, que não botava um pingo de fé, Pedro, o cortador de orelha…”

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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