Líderes da Igreja Católica avaliam que há em Roraima algo que não se configura como disputa por terras entre grupos que se equivalem. Eles são acusados por parte da sociedade do estado de manipular os índios favoráveis à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em área contínua.
“Aqui é um massacre. Várias lideranças indígenas já foram assassinadas e tiveram malocas destruídas. E não há um fazendeiro que tenha sido atingido por flecha. Os indígenas não fabricaram bomba, não explodiram nada. O máximo que os índios fizeram foi trancar a estrada, o que os arrozeiros já cansaram de fazer”, afirmou dom Roque Paloschi, bispo da Diocese de Roraima, avisando não se tratar de conflito o impasse entre moradores na Raposa Serra do Sol.
Segundo dom Roque, a igreja é vítima de acusações sem fundamento vindas de parte da sociedade de Roraima : “O crime que cometemos aqui foi ajudar a promover a dignidade dos índios como sujeitos de sua própria história. Isso confessamos perante o Papa e as autoridades brasileiras. Não foi a Igreja que estabeleceu que os índios teriam direito à terra”.
A catedral de Boa Vista está pichada com mensagens ofensivas à igreja e ao governo federal. “Felizes os perseguidos por causa da justiça”, comenta o religioso. Sobre os autores da ação, o bispo desconversa: “Homens ilustres, de alto gabarito, não iriam fazer isso. Deve ser coisa de algum moleque”.
O padre Vanthuy Neto nega que o gado trabalhado pelas comunidades indígenas pertença à igreja. Segundo ele, a igreja ajudou, de fato, os índios a formar o rebanho bovino em movimentos da década de 70, mas com fins solidários: “Uma comunidade recebia 50 vacas e dois touros e depois de um tempo tinha que devolver o mesmo número a outra comunidade”. Outra contribuição da Igreja aos índios, destaca o padre, foi a construção de hospitais e, ainda hoje, a manutenção de postos médicos, em que índias aprendem técnicas de enfermagem.
O posicionamento crítico da Igreja Católica à situação de Raposa Serra do Sol, ressaltou dom Roque, já era expresso por missionários que estiveram na região há quase 100 anos: “Em 1911 eles enviaram carta a ministros denunciando uma relação de exploração e escravidão existente entre fazendeiros e índios”.
As afirmações – vindas de arrozeiros e políticos – de que missionários da Igreja Católica na Raposa Serra do Sol estariam a serviço dos interesses de organizações não-governamentais internacionais são respondidas pelo bispo com um desafio: “Se há um missionário procedendo inadequadamente, isso é crime, deve ser denunciado e não apenas falado em entrevistas. Todas as nossas atividades não se fazem na calada da noite. Tem que agir judicialmente”.
Fonte: MS Notícias