Já se passaram 12 anos desde que um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em um programa de TV. Agora, na tentativa de atrair mais católicos, Igreja evangélica busca abordar temas tabus para o Vaticano.

Dona de um rebanho cada vez maior, a denominação evangélica nascida no Rio, que em julho faz 30 anos, continua “batendo” cada vez mais forte na Igreja Católica de olho em seus fiéis. E escolheu como armas dois temas espinhosos: a legalização do aborto e o planejamento familiar.

Em maio, durante inauguração de um megatemplo em Johannesburgo, na África do Sul, foram distribuídos 150 mil preservativos. A notícia foi estampada na capa do Jornal Palavra, que não é de propriedade da Igreja, mas é destinado ao público evangélico. A Universal está presente em cerca de cem países.

A reportagem afirma que o bispo Edir Macedo, fundador e líder espiritual da Igreja, já anunciou que o mesmo poderia ser feito em outros lugares. A África foi escolhida por viver grave epidemia de aids. De acordo com o jornal, depois da distribuição, transmitida pela TV Record – essa, sim, da Universal -, o bispo avisou: “Nós não podemos evitar que as pessoas tenham relações sexuais. Distribuindo camisinhas, estamos fazendo um trabalho social.” A legalização do aborto vem sendo abordada de forma ainda mais aberta.

A Record tem veiculado mensagens, nos intervalos comerciais, em que defende o direito da mulher de interromper uma gravidez indesejada. Uma atriz exalta conquistas femininas, como a pílula anticoncepcional, e diz que cabe à própria pessoa decidir o que fazer com o próprio corpo.

Em outra frente, a Folha Universal, também veículo da Igreja, trouxe, na semana passada, uma reportagem sobre o aborto, que mostrava os riscos das cirurgias realizadas clandestinamente. O jornal lembrou que a Igreja Católica mantém-se firme contra o aborto em qualquer situação, o que “tem levado o clero romano a uma seqüência de derrotas, por conta de seu conservadorismo”. O texto rememorou declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que defendeu a realização de plebiscito para discutir a proposta de legalização do aborto pouco antes da vinda do papa Bento XVI ao Brasil, em maio.

‘Não adianta rezar’

“Eu não falo sobre isso no culto. Mas acho que se o camarada ganha um salário mínimo e já tem dificuldade para sustentar a esposa, vai ter filho como? E a mulher que está grávida de um bebê sem cérebro ou filho de um estuprador, como vai ter essa criança?”, expôs um pastor à reportagem do Estado, em conversa informal após um culto. “O povo quer resultados. Não adianta mandar rezar cem ave-marias e pais-nossos. Eu não digo para ninguém fazer isso ou aquilo, mas mostro as causas das coisas. A pessoa decide.”

O Estado procurou a Igreja Universal, por meio de sua assessoria de Imprensa, mas nenhum representante deu entrevista. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado e sobrinho de Edir Macedo, não teve tempo de falar com a reportagem. A Arquidiocese do Rio também não se pronunciou.

Fonte: Estadão

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