Encontro entre religiosos em um terreiro de macumba depredado
Encontro entre religiosos em um terreiro de macumba depredado

Com as paredes ainda chamuscadas, janelas despedaçadas e pedaços do piso quebrado espalhados pelo chão, o terreiro Pena Branca, em Cabuçu, Nova Iguaçu, recebeu o pastor e cantor Kleber Lucas, o padre Fabio de Melo; o babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa; o antigo bispo mórmon, e atual membro da congregação, Iltamar Paiva; o bispo licenciado da Igreja Mundial Renovada e subsecretário de Direitos Humanos de São João de Meriti, Marcelo Rosa; e o advogado judeu Ricardo Brajterman.

O templo é comandado pelo babalaô Sérgio Malafaia D’Ogum que, sim, guarda grau de parentesco com o pastor e presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia.

O encontro inter-religioso foi motivado por outro episódio recente que levantou o tema da intolerância: durante um sermão em abril deste ano, na cidade de Cachoeira Paulista, Fabio de Melo usou a palavra macumba em tom jocoso, e viralizou na internet. Com a ajuda de Brajterman, o líder da CCIR entrou em contato com o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta: cerca de vinte minutos depois, seu telefone tocou e, do outro lado da linha, estava o padre, arrependido.

“Foi uma piadinha infeliz que abriu muitos horizontes para mim”, diz o popstar da Igreja Católica, com quase 9 milhões de seguidores no Instagram. “É muito bom poder me unir a essas pessoas para que a gente busque o essencial: amor a Deus e o respeito ao ser humano.”

O diálogo foi aberto às 9h na Barra da Tijuca, em um café da manhã na casa do deputado estadual e ex-secretário estadual de Esportes, Thiago Pampolha (PDT).

Kleber Lucas, que é pastor da Igreja Batista Soul, criticado por segmentos evangélicos pela participação em atos ecumênicos e o padre Fábio de Melo se comprometeram a participar da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que vai percorrer a orla de Copacabana em 6 de setembro.

Sobre o polêmico vídeo, o padre diz que o episódio o fez pensar melhor sobre o uso da linguagem e o agregou, de forma definitiva, na luta pela defesa da liberdade religiosa. Usuário assíduo das redes sociais, ele não conseguiu, no entanto, retirar o polêmico vídeo do sermão feito em abril: o perfil “Frases Padre Fabio de Melo”, responsável pela divulgação, não é controlado por ele e não tem qualquer forma de contato. O Facebook ainda não atendeu o seu pedido para que clipe saia do ar.

” A internet tem um aspecto muito positivo de democratizar o direito de dizer. Só que todo mundo diz o que quer, da forma como quer, e às vezes sem nenhuma reflexão. Ela revela uma característica dos nossos tempos: somos muito reativos e pouco reflexivos”, pondera.

O advogado Ricardo Brajterman, que fez parte durante anos da Fundação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, acredita que o encontro deste domingo vai fortalecer a discussão sobre o respeito à diversidade religiosa:

“O Brasil hoje está cego de raiva, dividido entre coxinhas e mortadelas”, exemplifica. “Acho que esse encontro pode ser uma semente para mostrar para diversos outros segmentos que pessoas diferentes, tanto em termos de raça como religião, podem se sentar à mesa juntas.”

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