Quem sabe, a cidade de Duisburg não esteja no processo de se tornar historicamente um modelo de integração bem-sucedido. No final de outubro, esta cidade do vale industrial da Ruhr (oeste) vai inaugurar em seu bairro de Marxloh a maior mesquita da Alemanha.

Este edifício de inspiração bizantina, sobre o teto do qual foi construída uma cúpula de 23 metros de altura, além de outras quatorze pequenas cúpulas e mais um minarete de 34 metros, comporta uma lotação máxima de 1.200 pessoas. Situado ao norte da cidade, este local de culto constitui um dos raros exemplos de cooperação harmoniosa entre as instituições locais e a comunidade muçulmana. Do começo até a sua conclusão, a implementação do projeto não provocou nenhuma espécie de controvérsia.

Já, em muitos outros lugares na Alemanha, os projetos de construção de mesquitas têm sido objetos de polêmicas sem fim e seguem cristalizando os temores da população. De todos eles, o exemplo de Colônia é o mais conhecido. Após dois anos de controvérsias, a municipalidade deu finalmente o sinal verde, na quinta-feira, 28 de agosto, para a construção de uma mesquita no bairro de Ehrenfeld. Quer isso tenha sido fruto do acaso ou deliberado, esta decisão foi tomada alguns dias antes do começo do período do ramadan, em 1º de setembro. As obras deverão ser iniciadas no começo de 2009, enquanto a sua conclusão está planejada para o final de 2010. Em função das suas dimensões – dois minaretes se erguerão rumo ao céu a 55 metros de altura (contra 157 metros para a catedral) -, a mesquita de Colônia suplantará então a de Duisburg.

“Nós não podemos permitir que nasça uma sociedade paralela”, declarou Fritz Schramma, o prefeito democrata-cristão da cidade. Este eleito que defendeu o projeto de construção de uma mesquita contra a vontade do seu próprio partido, nele enxerga um meio para tirar o Islã da quase-clandestinidade em que ele se encontra. Ao longo de meses, os partidários e os opositores desta construção haviam travado uma luta sem mercê. As intervenções de personalidades tais como o escritor Ralph Giordano – que protestou contra aquilo que ele considera ser “uma demonstração de força do Islã” -; ou ainda do autor Günter Wallraff, que se prontificou a ler nas dependências da atual mesquita trechos de “Versos Satânicos”, de Salman Rushdie (1989), um livro considerado como ofensivo ao profeta Maomé, que valeu ao seu autor ser condenado à morte pelo aiatolá Khomeini, foram representativas das tensões suscitadas.

Diálogo

Contudo, mesmo depois da decisão da prefeitura, os opositores seguem em pé de guerra. O partido Pro Köln, uma pequena agremiação de extrema-direita, que conseguiu reunir 23 mil assinaturas contra o projeto, convocou seus simpatizantes para manifestarem em 20 de setembro próximo em Colônia. Os seus líderes também convidaram todos os expoentes da extrema-direita européia para participarem de um “congresso contra a islamização”, a ser realizado nesta cidade. Entre os oradores que foram anunciados figuram o líder francês da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, e o belga Filip de Winter, do Vlaams-Belang.

“Uma construção tão espalhafatosa em nada contribui para a integração, e, de qualquer maneira, já existem locais para orações muçulmanos em quantidade suficiente nesta cidade”, afirma Markus Wiener, um dos dirigentes desta organização. Ele conta com uma possível mudança de representação política na prefeitura, que poderia ocorrer com as eleições municipais de junho de 2009, para barrar o projeto.

Seguindo o exemplo de Colônia, outros projetos de construção de mesquitas andaram suscitando conflitos em diversas outras grandes cidades alemãs, entre as quais Frankfurt, Berlim, Munique e Kassel. Contudo, dentre os cerca de 900 locais de orações muçulmanos existentes, apenas 206 são dotados de edifícios representativos, com um minarete ou várias cúpulas, segundo informa o instituto de arquivos sobre o Islã, com sede em Soest (oeste).

“As pessoas começam a dar mostras de preocupação tão logo o Islã se torna visível, ao passo que os políticos não se cansam de reclamar uma maior transparência”, fustiga Aiman Mazyek, o secretário-geral do conselho central dos muçulmanos da Alemanha. Uma série de estudos realizados pelo sociólogo Wilhelm Heitmeyer, da Universidade Bielefeld, confirma que está havendo um crescimento da islamofobia por toda a Alemanha. Além disso, este fenômeno tenderia a propagar-se, sobretudo nos meios intelectuais. Segundo as análises do sociólogo, cerca de 27% dos alemães não escondem a sua rejeição explícita dos muçulmanos; e 35% dos alemães se mostram pessimistas e críticos a seu respeito.

“Os esforços precisam ser empenhados dos dois lados. A sociedade alemã, da mesma forma que as organizações muçulmanas, precisa aprender a administrar esses conflitos”, sublinha este especialista. Neste contexto, Duisburg pode apontar o caminho que deve ser seguido. Os profissionais que empreenderam a construção da mesquita de Marxloh deram mostras de uma grande abertura para o diálogo. “Eles cooperaram muito cedo com as autoridades locais”, conta Aiman Mazyek. Logo em 2001, um conselho consultivo que incluiu, além de lideranças da comunidade muçulmana, representantes das Igrejas, dos partidos políticos, das escolas, das universidades e dos habitantes do bairro, foi implantado.

“O fato de instaurar um clima de confiança foi fundamental”, confirma Zülfiye Kaykin, que é um dos organizadores do projeto em nome da Ditib (União Turca Islâmica em prol da religião). “Já, nas outras cidades, existe quase sempre uma distância excessiva entre a comunidade muçulmana e as autoridades locais”. Por sua vez, a municipalidade sempre deu seu apoio a este projeto. “Os sinais que são transmitidos pelas elites são essenciais em conflitos desta natureza”, constata Wilhelm Heitmeyer.

Os membros da Ditib também se mostraram atentos para a necessidade de se manterem certas proporções em relação às dimensões dos outros edifícios religiosos da cidade. Assim, o campanário da igreja mais próxima permanece muito mais elevado do que o minarete da mesquita de Marxloh.

Fonte: Le Monde

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