O líder da comunidade judaica de Roma, Leon Passerman, criticou a decisão do papa Bento 16 de se encontrar com um padre acusado de anti-semitismo, dizendo que o encontro, no último domingo (5), foi um sinal de que o pontífice está se aproximando mais dos conservadores e se fechando a uma aproximação com os judeus.

Bento 16 recebeu o padre Tadeusz Rydzyk –diretor da radio Maryja, uma emissora polonesa muito criticada por grupos judeus– em sua residência de verão perto de Roma, com um grupo de fiéis.

Em entrevista ao jornal italiano “La Stampa”, Passerman disse que o gesto do papa demonstraria a intenção do Vaticano de manter dentro da igreja os simpatizantes de padre Rydzyk e representa uma mudança na linha política da Santa Sé.

Passerman definiu o encontro como um “reconhecimento público clamoroso de uma rádio nacionalista, populista e anti-semita em um país onde havia 3,5 milhões de judeus e hoje há apenas 5.000”.

“Na Polônia estão tentando voltar atrás no tempo, com relação à sociedade secularizada, e a audiência de domingo é uma autorização implícita ao Catolicismo tradicionalista”, disse o líder judeu.

“Depois de alguns sinais de abertura em relação ao judaísmo, no início, este pontificado começou a seguir posições fortemente conservadoras”, afirmou Passerman.

Saudação

O aperto de mãos entre Bento 16 e o padre Rydzyk também provocou forte reação em outras partes do continente europeu.

“As afirmações anti-semitas de padre Rydzyk são amplamente transmitidas por meio de sua rádio, por isto ficamos chocados que o papa tenha concedido audiência e sua bênção a um homem e uma instituição que mancharam a imagem da igreja polonesa”, diz uma nota divulgada na quarta-feira pelo Congresso Judaico Europeu, a entidade que reúne as comunidades judaicas de toda a Europa.

Os jornais poloneses definiram o encontro como uma verdadeira audiência de Rydzyk com o papa, enquanto fontes do Vaticano deram menor importância ao evento, definido como “uma saudação mais que encontro”.

Depois das reações das comunidades judaicas, o Vaticano fez um breve comentário sobre o caso, com uma nota oficial, divulgada nesta quinta-feira.

O texto afirma que o encontro do último domingo “não implica em nenhuma mudança na bem conhecida posição da Santa Sé sobre a relação entre católicos e judeus”.

Durante sua visita a Polônia, em maio do ano passado, o papa não quis receber o padre e exigiu formalmente que ele deixasse de fazer declarações anti-semitas. Mas nenhuma providência mais drástica foi tomada.

Durante seu pontificado, Bento 16 tem anunciado medidas que foram interpretadas por analistas como tentativas de aproximar a Igreja de setores mais conservadores do Catolicismo, ao mesmo tempo em que afastam a Igreja de outras denominações cristãs e não-cristãs.

Em julho, o Vaticano divulgou um decreto de previa o retorno das missas em latim e a reintrodução nos ritos católicos de uma polêmica oração que pede a conversão de judeus ao catolicismo.

Fonte: Folha Online

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