O clérigo Abdul Rasheed Ghazi, que lidera os radicais islâmicos que vêm mantendo centenas de pessoas como reféns na Mesquita Vermelha de Islamabad (capital do Paquistão), disse neste domingo esperar que ele e seus seguidores consigam despertar uma revolução islâmica no país.

Jornais paquistaneses deste domingo divulgaram uma nota, supostamente de Ghazi, em que ele afirma preferir o “martírio” a se entregar. “Temos a firme crença em Alá que nosso sangue levará a uma revolução”, diz o comunicado, citado pela agência de notícias Reuters. “Com a vontade de Alá, a revolução islâmica será o destino desse país.”

Forças de segurança do país que cercam a Mesquita Vermelha de Islamabad dinamitaram neste sábado uma parte do muro do templo. Também houve um intenso tiroteio, pouco antes da meia-noite, entre as forças de segurança e os islâmicos que se mantêm entrincheirados no interior do complexo da mesquita.

As forças de segurança dinamitaram o muro para permitir que as pessoas que estão dentro possam sair, disse uma fonte à agência de notícias France Presse. Por enquanto, não há informações sobre possíveis feridos na ação. As tropas paquistanesas cercam a mesquita desde terça-feira (3) quando confrontos entre estudantes radicais armados e forças do governo ganharam força, após meses de tensão.

Sem a brecha no muro, as pessoas que tentavam sair tinham que tentar escalar seus quase 2,5 m, se tornando alvo de tiros de estudantes radicais –na sexta-feira (6), dois estudantes, de 12 e 14 anos, morreram. A queda do muro também deu às forças de segurança uma imagem mais clara do que acontece do lado de dentro.

Ghazi diz ter com ele dentro da mesquita cerca de 2.000 pessoas, na maioria mulheres. O ministro de Assuntos Religiosos do Paquistão, Mohammad Ejaz ul Haq, no entanto, estima que o número de pessoas dentro do prédio esteja entre 200 e 500. Haq disse que entre os seguidores de Ghazi há “terroristas, radicais, que são procurados dentro e fora do país”.

Al Qaeda

Fontes oficiais do governo paquistanês disseram, segundo a agência de notícias France Presse, que entre os radicais entrincheirados na mesquita, há alguns que seriam próximos à rede terrorista Al Qaeda. Os radicais seriam membros do Harkat ul Yihad al Islami (“Movimento da Guerra Santa Islâmica”), ilegal no Paquistão e acusado de ser a principal organização que deu abrigo aos membros da Al Qaeda que fugiram do Afeganistão depois da queda do regime Taleban, no final de 2001.

Os recentes episódios de violência são resultado de meses de tensão com a mesquita, onde os líderes radicais desafiaram a autoridade de Pervez Musharraf, ao seqüestrar vários civis chineses e paquistaneses durante uma “campanha de moralização”.

Ontem, o presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, disse que os fundamentalistas entrincheirados na mesquita serão eliminados se não se renderem, após descartar mais negociações com eles.

Cerca de 1.100 alunos saíram das escolas que fazem parte da mesquita desde o início dos confrontos na semana, mas desde sexta-feira (6) apenas 20 pessoas saíram do local. Duas conseguiram sair por uma das brechas abertas pelas explosões de hoje.

Ghazi negou que esteja usando crianças como escudos humanos e disse a canais de TV paquistaneses que mais de 300 de seus alunos (na maioria mulheres) foram mortos em tiroteios com as forças de segurança. O ministro da Informação do Paquistão, Mohammad Ali Durrani, nega.

Energia elétrica, gás e água já foram cortados e, segundo fontes oficiais, a comida deve estar começando a escassear.

Religiosos tentam mediação na crise da Mesquita Vermelha

Religiosos paquistaneses ligados aos meios islâmicos tentavam nesta segunda-feira estabelecer uma mediação entre os radicais entrincheirados na Mezquita Vermelha de Islamabad e as tropas governamentais, com o objetivo de evitar uma invasão ao templo após uma semana de confrontos.

“Os ulemás (doutores na lei islâmica) e pessoas relacionadas às madrasas (escolas corânicas) realizam os últimos esforços”, disse uma fonte oficial.

Esta iniciativa acontece no momento em que ganha força a hipótese de uma invasão da mesquita, onde 24 pessoas morreram em sete dias de enfrentamentos.

“Nós estamos fazendo tudo o que está a nosso alcance para obter um compromisso com a meta de resolver a crise de maneira pacífica”, disse à AFP Hanif Jalandri, ligado à Wafaq-ul-Madaris, a principal organização religiosa que administra as escolas islâmicas no Paquistão.

O Conselho dos Ulemás Paquistaneses, uma organização independente que no mês passado concedeu um prêmio a Osama bin Laden, anunciou que o governo solicitou sua ajuda.

“À meia-noite, altos funcionários do governo realizaram os últimos contatos destinados a convencer Abdul Rashid Ghazi (um dos dirigentes da Mezquita Vermelha) a se render”, afirmou o presidente da organização, Maulana Tahir Ashrafi.

O governo já informou que não aceitará as exigências de Ghazi, que deseja sair livre da mesquita.

Fonte: Folha Online e AFP

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