Bolsonaristas radicais invadem e destroem Congresso, Palácio do Planalto e STF.
Bolsonaristas radicais invadem e destroem Congresso, Palácio do Planalto e STF.

Levantamento feito pela Agência Lupa a partir de dados da lista oficial dos 1.398 detidos mostra que ao menos quatro pastores donos de igrejas e que participaram diretamente do ataque terrorista no dia 8 de janeiro foram presos.

No entanto, o estudo mostra que o número de líderes religiosos envolvidos com o a tentativa de golpe pode ser maior. Pelo menos outros 13 líderes religiosos aparecem na base de dados incitando ou aderindo às invasões aos prédios dos Três Poderes da República (Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto).

Entre os religiosos que já estão presos na Papuda está Francismar Aparecido da Silva, que se apresenta como “pastor presidente” da igreja Ministério Evangelístico Apascentar; João Marciano de Oliveira, dono da Igreja Jesus Cristo é a Razão do Meu Viver, em Ribeiro das Neves (MG); Donizete Paulino da Paz, dono da Igreja Assembleia de Deus – Ministério O Deu das Nações, em Luziânia (GO); Jorge Luiz dos Santos, presidente da Igreja Evangélica Amor de Deus João 3:16, de Itaverava (MG).

Francismar Aparecido da Silva, de acordo com a Agência Lupa, se apresenta como “pastor presidente” da igreja Ministério Evangelístico Apascentar. Aos 46 anos, o religioso coleciona na internet imagens de protestos bolsonaristas em que há cartazes convocando as Forças Armadas para “salvar” o Brasil. Nas postagens mais recentes no Facebook, Francismar questiona: “Se não tiver luta, como vai ter vitória?”. Em resposta, ele colhe comentários com a palavra “amém”. A igreja de Francismar tem sede em Itajubá (MG) e até o dia 12 constava na Receita Federal como sendo uma entidade ativa.

Segundo a Agência Lupa, João Marciano de Oliveira, de 47 anos, dono da igreja Jesus Cristo é a Razão do Meu Viver, em Ribeirão das Neves (MG), também foi preso na capital federal. No Facebook, ele prega “limpeza do STF” e posta fotos com elogios ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a sua mulher, Michelle. Até o dia 12, a entidade dirigida por ele estava ativa.

O terceiro pastor detido é Donizete Paulino da Paz, de 56 anos. Informações da Agência Lupa diz que ele é dono da Igreja Assembleia de Deus – Ministério O Deus das Nações, ativa e com sede em Luziânia (GO). Nas redes sociais de Donizete há apenas uma foto publicada, em que ele aparece pregando em um culto. 

Também aparece na lista da Agência Lupa, o pastor Jorge Luiz dos Santos, de 57 anos, presidente da Igreja Evangélica Amor de Deus João 3:16, de Itaverava (MG). A instituição foi fundada em 14 de julho de 2016 e permanece ativa. A Agência Lupa não localizou as redes sociais do religioso.

Mais líderes cristãos flagrados

Uma análise das denúncias feitas de forma espontânea e anônima à base Lupa nos Golpistas mostra que, pelo menos, outros 13 líderes religiosos foram flagrados incitando, celebrando ou mesmo aderindo à depredação em Brasília. Muitos deles usaram o nome de Deus para justificar suas participações.

“Estou no Senado Federal aqui, ó, missionário Felicio Quitito, servo do Deus vivo”, exclama o pastor, enquanto se senta em uma das poltronas azuis que compõem a mesa do Congresso. “É isso aí. Jair Messias Bolsonaro, você vai estar voltando para esta nação e continuará o seu governo”.

Na mesma gravação, Quitito ainda diz que “toda a obra da macumba e da feitiçaria caiu por terra”, numa referência às religiões de matriz africana e às invasões dos edifícios públicos da capital. O missionário, cujo nome é Felício Manoel Araújo, também está na lista de presos divulgada pelo governo do Distrito Federal. 

Conhecido nas redes sociais, o pastor goiano Thiago Bezerra também esteve nos atos terroristas e transmitiu, em sua conta do Instagram, momentos do ataque, de acordo com a Agência Lupa. “Vou mostrar para vocês onde eu estou”, diz o pastor, exibindo uma multidão já dentro de um dos prédios dos três poderes. É possível ver, na gravação, que o local já estava depredado.

O pastor ainda pediu, durante uma live, que as pessoas seguissem uma conta reserva no Instagram, dando a entender que o perfil usado por ele poderia ser derrubado. “Gente, com urgência. Segue essa conta aqui [@ da conta]. Vocês já sabem do que eu estou falando”, afirmou. As duas contas usadas por Thiago Bezerra não estão mais disponíveis na plataforma.

Um dia após os ataques, contudo, o pastor fez uma live em seu canal do YouTube defendendo a narrativa que vem sendo compartilhada por bolsonaristas de que havia infiltrados da esquerda nos atos. “Tinham pessoas infiltradas no meio de patriotas. Porque em 70 dias de manifestação pacífica não houve quebradeira. Vocês não acham que tinha um circo preparado lá?”, argumentou.

No YouTube, o pastor Luciano Cesa, que foi candidato a deputado federal pelo Patriotas-RS, reclama do que chama ser censura, enquanto bebe um chimarrão diante de centenas de espectadores. Para evitar que seu vídeo fosse fisgado por sistemas de monitoramentos em redes sociais, Cesa soletra a palavra “direita” e diversas outras ligadas ao extremismo bolsonarista e, em seguida, convoca sua audiência a não ficar parada. 

“Agora o povo tem que se manifestar. O próprio presidente [Bolsonaro] disse ‘o melhor está por vir’”, alega. Nos comentários da transmissão ao vivo, há pessoas afirmando que lotarão Brasília, enquanto outros elogiam sua capacidade “de falar por entrelinhas”.

A Agência Lupa tentou entrar em contato com todos os religiosos citados, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Segundo a Agência Lupa, todos os nomes dos pastores presos citados na reportagem tiveram audiência de custódia marcada em algum momento.

Fonte: Agência Lupa e Brasil de Fato

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