Com Israel impondo fortes restrições aos movimentos dos palestinos, o mês sagrado do Ramadã é uma rara ocasião em que um grande número de palestinos da Cisjordânia pode entrar em Jerusalém para adorar na Mesquita de Al Aqsa, um dos locais mais sagrados do Islã.

Nesta sexta-feira, a última antes do fim do Ramadã, cerca de 180 mil muçulmanos da Cisjordânia e Israel lotaram as estreitas ruas de pedra da Cidade Velha de Jerusalém e rezaram no complexo. Mas não serviu de consolo para os milhares de homens da Cisjordânia que foram barrados nos limites da cidade, alguns em brigas com as forças de segurança israelenses.

Israel, citando preocupações de segurança, permitiu apenas a entrada em Jerusalém e no complexo da mesquita a homens da Cisjordânia com 45 anos ou mais, enquanto as forças de segurança israelenses mantinham uma forte presença nos pontos de entrada ao longo da barreira de segurança do país com a Cisjordânia.

Na fronteira sul de Jerusalém com Belém, as forças de segurança israelenses dispararam gás lacrimogêneo e granadas atordoantes para afastar centenas de homens palestinos, que não foram autorizados a passar pelo checkpoint de segurança no muro de concreto de 7,5 metros de altura que divide as cidades.

“É uma sensação terrível”, disse Qassem al Balboul, 42 anos. Ele queria rezar em Jerusalém com sua filha de 8 anos, Sundus, que pede há anos para visitar a Mesquita de Al Aqsa. “Nós não temos empregos nem dinheiro, e agora nem mesmo podemos rezar em nossa maior mesquita.”

Os palestinos em Belém começaram a se reunir logo após o nascer do sol, horas antes das orações principais no complexo de Al Aqsa, a poucos quilômetros de distância. À medida que crescia a multidão, com muitos claramente abaixo da idade mínima permitida, a polícia ordenou que se dispersassem.

“Por favor, por favor, recuem; eu não quero usar isto”, disse um policial de fronteira israelense segurando uma granada atordoante. Mas assim que a multidão começou a pressionar para avançar, o policial e seus colegas começaram a lançar granadas atordoantes e a disparar gás lacrimogêneo.

Foi a segunda sexta-feira consecutiva em que as forças de segurança entraram em choque com palestinos buscando entrar em Jerusalém, apesar de nenhum ferido grave ter sido relatado em ambas as ocasiões.

Cidadãos árabes de Israel e aqueles que vivem em Jerusalém Oriental não enfrentam restrições para visitar o complexo da mesquita, o local onde teve início o levante palestino em 2000. Mas de lá para cá, os palestinos da Cisjordânia têm enfrentado cada vez mais dificuldades para entrar em Jerusalém. Com exceções ocasionais, os palestinos da Faixa de Gaza não recebem permissão para visitar Jerusalém.

Israel diz que as enormes multidões provam seu compromisso com a liberdade religiosa, mas insiste que as restrições são necessárias para proteção contra possível violência no local.

O complexo da mesquita foi construído há cerca de 1.300 anos sobre as ruínas do Templo Sagrado judaico bíblico. O local mais sagrado para o judaísmo é o Muro Ocidental (Muro das Lamentações), que forma um dos lados do complexo, conhecido pelos judeus como Monte do Templo.

As quatro sextas-feiras durante o Ramadã sempre atraem grandes multidões, e neste ano o mês sagrado muçulmano coincidiu com os feriados judaicos que atraem dezenas de milhares de judeus ao Muro Ocidental.

“Nós tivemos que nos preparar para um número imenso de pessoas e, ao nosso entender, tudo transcorreu de acordo com o plano”, disse Micky Rosenfeld, um porta-voz da polícia.

Os palestinos vêem de forma diferente.

Mufeed Dadoah, 39 anos, tem permissão para trabalhar em Israel há 15 anos, e entra diariamente em Jerusalém para seu emprego como operário de construção. Mas na sexta-feira, ele foi impedido de entrar por ter menos de 45 anos. “Hoje, Israel decide tudo por nós, mas algum dia isto mudará”, disse Dadoah.

Quando a Jordânia controlava a Cidade Velha de Jerusalém, de 1948 a 1967, ela não permitia que os judeus entrassem para rezar no Muro Ocidental.

Dadoah disse que espera pelo dia em que os muçulmanos governarão novamente a cidade e seus templos religiosos. Ao ser perguntado se os judeus seriam autorizados a rezar em seus locais sagrados, ele disse: “Deus permita que não”.

Ele então se juntou a cerca de 200 homens palestinos que rezavam na rua, com a barreira de separação de Israel se erguendo ao fundo.

Em Jerusalém, os fiéis costumavam deixar o complexo da Mesquita de Al Aqsa e lotar as ruas repletas de pequenas lojas. Mas neste ano, a situação econômicas dos palestinos está pior do que nunca e a maioria disse que carece de dinheiro para comprar os habituais presentes do feriado de Eid al Fitr, que ocorrerá na próxima semana, ao final do Ramadã.

“Como podemos desfrutar dos feriados?” perguntou Safiyeh al Awadeh, 42 anos, da cidade de Hebron, na Cisjordânia. Normalmente, ela vem a Jerusalém para orar e comprar presentes para seus nove filhos, assim como para preparar o grande banquete da família.

“Hoje, não posso comprar nada”, ela disse. “Tudo o que tenho é isto”, ela acrescentou, abrindo uma sacola plástica com um tapete de oração que trouxe de casa.

Na Faixa de Gaza na sexta-feira, homens armados palestinos dispararam contra as forças de segurança palestinas que viajavam com o primeiro-ministro, Ismail Haniya. Um veículo da força de segurança foi incendiado, mas não foi registrado nenhum ferido.

Fonte: The New York Times

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