“De onde vens e aonde vais? De matriarcas, patriarcas e o patriarcado” foi o tema de dois encontros da Rede de Mulheres do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), reunidas no Centro Mariápolis “Concórdia”, no vale do Puembo, próximo a Quito, e na sede do CLAI, na capital.

O grupo contou com cerca de 30 pessoas, mulheres e homens, e incluiu representantes de igrejas de Quito e Guayaquil.

Os encontros ocorreram no marco da X Conferência Sobre as Mulheres na América Latina e no Caribe da ONU — CEPAL, entre os dias 6 e 9 de agosto, em Quito. O último dia do encontro da rede foi utilizado para “socializar” a informação e os insumos da X Conferência Regional da ONU, da qual participaram várias mulheres a partir das suas comunidades religiosas.

Devoções, celebrações e deliberação sobre o texto bíblico integraram a programação dos encontros. Em grupos, as mulheres fizeram uma releitura bíblica a partir de uma perspectiva de gênero, de modo particular sobre o primeiro patriarca, Abraão, junto com Sara, Hagar e outras protagonistas do relato. As participantes trabalharam sobre vários eixos de poder no texto, inclusive a importância das matriarcas Hagar e Sara; a violência horizontal entre elas e seus papéis na história de salvação, com freqüência ignorado e não-visível.

A coordenadora da rede, Alexandra Meneses, disse que os encontros contribuíram para ver com clareza a ação de Deus que aproximou-se da mulher escrava, pobre, desprezada e desesperada, como Hagar, e prometer-lhe diretamente descendência e companhia, como o tinha feito com Abraão.

“Isso nos revela um Deus que não se detém nem complica quando se trata de tornar sua graça visível; que não se detém para perguntar se é pobre ou rico, escravo ou livre, homem ou mulher, mas que, generosamente, entrega às mãos cheias suas promessas, bênçãos e tarefas”, disse Meneses.

Também mostra que mesmo pessoas boas, como Sara, são capazes de atos cruéis e desumanos. Que Abraão e todos os Abraãos, apesar de sua estreita relação com Deus, são capazes de reproduzir um papel patriarcal e de lavar as mãos; e que pessoas, como Hagar, que estão em condição de fragilidade frente a outros, são capazes de crescer, em libertação, em estima e em dignidade, apontou a coordenadora.

O estudo, escrito e ministrado pela coordenadora continental da Pastoral de Mulheres e Gênero do CLAI, reverenda Judith van Osdol, serviu para “provocar pensamento profundo, ação e compromisso concreto no campo de gênero e direitos humanos das mulheres nas igrejas”, disseram as participantes.

Para poder vasculhar a mão de Deus e sua graça presente no cotidiano é preciso deter-se nesses textos fundantes, para que as mulheres também possam ver-se na história da salvação e sentir-se protagonistas, ser parte íntegra da história sagrada, assumindo sua vocação e liderança na igreja e na sociedade, disse a pastora.

Um compromisso central da Pastoral de Mulheres e Gênero do CLAI tem sido a formação da liderança das mulheres nas igrejas, com a releitura bíblica a partir de uma perspectiva de gênero. Para este fim, são realizados eventos, oficinas, publicações e encontros todos os anos na maioria dos países da América Latina e do Caribe. “Faltam alguns poucos países ainda para ter redes trabalhando e agora vamos atender estes países e igrejas”, informou van Osdol.

Fonte: ALC

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