Os líderes muçulmanos receberam nesta quarta-feira com prudência a promessa do presidente Barack Obama de um novo enfoque nas relações entre os Estados Unidos e o mundo islâmico e estimaram que o fechamento da prisão de Guantánamo, criada dentro da guerra contra o terrorismo, seria um bom sinal para o futuro.

O primeiro discurso do presidente Obama na terça-feira deu esperanças ao todos de que seu governo vai reparar rapidamente as profundas divergências entre os Estados Unidos e o mundo árabe que surgiram durante a presidência de George W. Bush.

“Com o mundo muçulmano, buscaremos um novo enfoque para avançar, baseado no interesse e no respeito mútuos”, disse Obama nas escadarias do Capitólio, depois de prestar juramento a uma multidão de mais de um milhão de pessoas.

O novo presidente anunciou que os Estados Unidos começarão “a deixar com responsabilidade o Iraque para seu povo e a forjar uma paz duramente ganha no Afeganistão”. Além disso, garantiu que trabalhará com “os velhos amigos e ex-adversários, para reduzir a ameaça nuclear”.

Obama pediu imediatamente depois de assumir o cargo a suspensão por 120 dias dos processos nos tribunais de exceção de Guantánamo, que julgam atualmente cinco supostos envolvidos nos atentados do 11 de Setembro de 2001 em Nova York e Washington. Dois procuradores devem dizer nesta quarta-feira se aceitam o pedido.

A prisão de Guantánamo, em uma base naval americana situada no extremo leste da ilha de Cuba, se tornou um estigma denunciado pelos defensores dos direitos humanos, e Obama prometeu fechá-la durante a campanha eleitoral. Esta medida apaziguaria o ressentimento dos muçulmanos causado pelo tratamento dado aos prisioneiros.

“O fechamento desta prisão seria um bom sinal”, disse Makarim Wibisono, ex-embaixador na ONU da Indonésia, país com o maior número de muçulmanos do mundo.

“Esta foi uma das promessas de Obama durante sua campanha. Espero que isso avance rapidamente e que a nova administração seja mais sensível aos direitos humanos”, acrescentou.

No entanto, Obama não fez referência alguma em seu discurso ao conflito entre israelenses e palestinos, nem à sangrenta ofensiva de Israel em Gaza, o que foi visto com preocupação por alguns analistas.

Maskuri Abdilah, líder de Nahdlatul Ulama – a organização mais importante do mundo muçulmano com cerca de 60 milhões de seguidores – disse que Obama evitou assim se referir ao problema que mais diz respeito ao mundo muçulmano.

“Isso é crucial porque este problema é a raiz de toda a violência e a tensão entre o mundo islâmico e o Ocidente”, acrescentou.

Obama vai enfrentar desafios complexos como a retirada do Iraque, conseguir a paz no Oriente Médio e no Afeganistão, estabilizar o Paquistão, país que tem a bomba atômica, e impedir que o Irã tenha armamento nuclear, todos eles temas espinhosos nas relações entre muçulmanos e os Estados Unidos.

“Obama terá de encarar as realidades da região no caso do Paquistão, aliados fundamental dos EUA na guerra contra o terrorismo, que luta internamente contra uma insurgência islamita radical”, comentou Ishtiaq Ahmed, professor de Relações Internacionais da Universidade paquistanesa de Wuaid-e-Azam.

Jurshid Ahmed, líder do principal partido político religioso paquistanês, Jamaat-i-Islami, disse: “Só me resta orar. Tenho algumas esperanças, mas com a devida precaução”.

No Afeganistão, para onde Obama pretende enviar mais tropas para combater a crescente insurgência talibã, o analista Harun Mir, do Centro de Pesquisas e Estudos Políticos, afirmou que o discurso de Obama “enviou um sinal forte de que quer melhorar suas relações com o mundo muçulmano”.

“Já há muito otimismo com ele no mundo muçulmano”, acrescentou.

Fonte: AFP

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