Eventuais manifestações contra a visita de Bento XVI não são representativas da sociedade britânica, garante bispo anglicano, que acusa a sua Igreja de ter desistido de procurar a comunhão com Roma.

O bispo de Fulham, John Broadhurst é uma das mais importantes vozes da ala tradicionalista da Igreja Anglicana. Secretário-geral do movimento conservador Forward in Faith é apontado como possível líder de um ordinariato pessoal a ser criado para receber na Igreja Católica fiéis anglicanos que queiram manter aspectos da sua espiritualidade e liturgia.

À Renascença, Broadhurst explica que qualquer decisão a esse respeito apenas será tomada depois da visita, mas que o Santo Padre pode esperar ser bem recebido na Escócia e em Inglaterra, para onde viaja amanhã.

Que tipo de recepção é que o Papa poderá esperar da Igreja Anglicana?

Penso que será recebido de forma calorosa. Por mais defeitos ou virtudes que a Igreja Anglicana tenha, os ingleses são bem-educados.

As relações entre a Igreja Católica e a Anglicana ficaram agastadas com os mais recentes desenvolvimentos, tais como a publicação do Anglicanorum Coetibus pelo Papa e a decisão de permitir a ordenação de mulheres para o episcopado na Igreja Anglicana? E poderemos por isso esperar alguma hostilidade da parte das alas liberais dos anglicanos?

Penso que não haver hostilidade aberta. A verdade é que a Igreja de Inglaterra afastou-se das promessas que fez à Igreja Católica no contexto do processo ARCIC [diálogo ecuménico entre Roma e Cantuária] e está, para todos os efeitos, a dizer que não está interessado em atingir a comunhão. Claro que isso agastou as relações. Quanto ao Anglicanorum Coetibus, penso que não danificou as relações. Algumas pessoas não reagiram bem à sua publicação, mas outras sim.

É Secretário-geral do Forward in Faith [Para a Frente na Fé], um grupo que é teológica e liturgicamente próximo da Igreja Católica. Os vossos membros estão entusiasmados com a visita?

Sim! Sem dúvida. Os bispos da Igreja Anglicana encontrar-se-ão com o Santo Padre na abadia de Westminster, e muitos de nós iremos também ao grande evento em Birmingham, por isso não passaremos à margem, estaremos presentes.

Mas para os tradicionalistas esta visita tem um sabor especial…

Claro que sim. É interessante porque o Cardeal Newman converteu-se do anglicanismo, por isso há em parte a sensação de que ele pertence a ambas as Igrejas.

A beatificação do Cardeal Newman será, claro, o ponto alto desta viagem. Do ponto de vista anglicano, ele pode ser visto como uma ponte entre as Igrejas, ou é mais um obstáculo?

Nem uma coisa nem outra. Ele foi um grande pensador sobre o desenvolvimento da doutrina. Num certo sentido tanto liberais e conservadores podem dizer que ele foi responsável pelas mudanças que ocorreram na Igreja. É um homem muito interessante. Tornou-se um católico por convicção, mas nunca se sentiu feliz na Igreja Católica. A sua convicção intelectual era de que tinha de estar em comunhão com o Santo Padre, mas socialmente não gostava muito da Igreja Católica inglesa.

A nível da sociedade em geral, tem-se falado em protestos, quão representativos da sociedade britânica actual são estes manifestantes?

Não são representativos de todo. Estas mesmas pessoas portaram-se pessimamente durante o último encontro de Lambeth, a reunião de todos os bispos anglicanos do mundo… Farão algum barulho, mas são uma pequeníssima minoria. A maioria dos ingleses, se lhes perguntarem, são indiferentes. Os religiosos estarão entusiasmados, e os grupos activistas de homossexuais são muito hostis.

Muitos dos anglicanos mais conservadores anunciaram que estavam a considerar seriamente a oferta de Roma no sentido de criar um ordinariato pessoal, mas tem havido muito poucas decisões formais. Podemos esperar confirmações durante a visita?

Certamente que não. Seria uma desfeita ao Santo Padre e à Igreja Anglicana tomar-se qualquer posição durante a visita. Penso que é evidente que a visita tem de passar, e depois o resto da história desenvolver-se-á.

E o senhor, já tomou uma decisão definitiva?

Nada é definitivo antes de acontecer… Eu sei bem em que campo estou, mas não comento isso agora.

Fonte: Renascença

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