Noiva critica curso de noivos da Igreja Adventista

Um vídeo da corretora de seguros Jéssica Arruda, de 28 anos, ganhou repercussão nas redes sociais. Integrante da igreja Adventista do Sétimo Dia, a jovem está prestes a casar e ficou incomodada ao participar de um curso de noivos promovido pela instituição religiosa.

Jéssica observou que o material utilizado pela instituição era machista. Ela resolveu expor o que pensa na busca de “uma sociedade menos machista, opressora, violenta e abusiva”.

A jovem reproduziu várias falas contidas no material, como “Se você quer ter o seu marido emocionalmente conectado a você, faça sexo regularmente com ele”, e “O homem fica frustrado e muitas vezes com raiva quando a mulher se nega a fazer sexo”, por exemplo.

“Eu sei que a igreja faz cursos como esses tentando alertar o casal para coisas que vão viver no futuro, mas, apesar da intenção, alguns conselhos estão mais próximos da violência, do abuso e de sobrecarregar o parceiro ou parceira”, declarou Jéssica em um trecho do vídeo de 17 minutos.

“A gente é criada numa cultura em que há o mito de que o homem tem mais necessidade sexual que a mulher. E eu sinto em dizer que não é. Não faz sentido. Se você um dia pensou que isso é verdade, eu estou aqui pensando que seria injusto da parte de Deus colocar isso inerente ao corpo físico.”, criticou Jéssica.

O material mostrado pela jovem não é antigo. Ele foi editado em 2019 pela Divisão Sul Americana da IASD, que produz os materiais utilizados na Igreja Adventista.

“A minha preocupação maior e a do meu noivo é que ninguém ficou incomodado. As pessoas concordam e aí é que mora o perigo, de esse comportamento ser cada vez mais normalizado. A igreja tem tanta influência sobre as pessoas, e tudo o que ela fala normalmente as pessoas abaixam a cabeça e só absorvem, então eu achei que seria a oportunidade de problematizar mesmo”, avalia ela, em entrevista ao Lado B.

A noiva também ressaltou que não é mais possível ignorar os inúmeros casos de violência doméstica e feminicídio que acontecem diariamente. “O número de violência doméstica dentro de uma relação é enorme, tudo isso porque se entende como normal um homem ficar violento porque a mulher não quer sexo”.

Jéssica se considera “adventista de berço”, pois já é da 3ª geração da família na igreja, e afirmou que pretende continuar servindo na instituição, mas sempre tentando desconstruir teologias que destoam da Bíblia e do mundo atual.

“É uma curiosidade geral o motivo que me faz ficar na igreja mesmo sabendo que ela tem tantos erros. Penso que seria muito fácil eu sair e tentar seguir um caminho sozinha, mas acredito que é um papel importante e difícil continuar ali dentro para reconciliar tantas pessoas que desistiram. Eu acho que resistir dentro dela eu tenho muito mais a contribuir”.

“A igreja continuaria doutrinando mais pessoas sem ninguém questionar. Então vamos problematizar e está na hora de mudar. Dessa maneira eu acho que consigo provocar mudanças muito maiores, sempre que a igreja fazer algo que vá contra a Bíblia”, acredita.

Após a publicação do vídeo da jovem, a assessoria de imprensa da Igreja Adventista do Sétimo Dia enviou a seguinte nota de esclarecimento:

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia está reavaliando a redação de partes de um dos seus guias para noivos. E está sempre aberta a considerações sobre os materiais que produz.

No entanto, é importante salientar que, por se tratar de um manual completo, qualquer referência a trechos isolados pode gerar interpretações equivocadas.

A denominação ensina que o casamento deve ser um relacionamento harmonioso, igualitário e de respeito mútuo. Incentiva o diálogo permanente do casal e o compartilhamento de responsabilidades dentro da relação matrimonial.

Ressalta, ainda, que não promove ou jamais promoveu conteúdo que sugere relacionamento abusivo dentro do casamento. Isso feriria as crenças bíblicas e princípios básicos da dignidade humana, defendidos pela organização adventista em todo o mundo.

Há mais de uma década, a Igreja Adventista mantém um projeto chamado Quebrando o Silêncio (www.quebrandoosilencio.org), que combate a violência praticada contra mulheres, crianças e idosos, destacando seu compromisso de proteger e cuidar da vida.”

A Igreja Adventista em Campo Grande (MS) disse que lamentava o ocorrido, e que o material já foi tirado de circulação para ser revisado pelos autores.

Na última semana, a cantora gospel Cassiane foi duramente criticada nas redes sociais por conta de seu clipe “A Voz”, que foi acusado pelo público de romantizar a violência doméstica. Ela pediu perdão e a gravadora MK Music lançou uma nova versão da obra.

Veja o vídeo:

Fonte: Portal do Trono e iG

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