Família trava batalha legal dizendo que apenas Deus pode determinar destino de mulher de 28 anos, enquanto hospital insiste que ela pede para morrer.

Era aniversário do pastor da Igreja Missionária de Antioquia, no Queens, Nova York, e os membros da igreja, a grande maioria de nacionalidade coreana, estavam preparando um almoço de domingo especial para ele.

Eles preparavam porções habituais de kimchi, lula e arroz servidos em um prato fundo, penduravam balões de festa no teto e acendiam as velas que cercavam o bolo. Quando a missa da manhã terminou e a congregação se reuniu no refeitório para comer, eles cantaram “Feliz Aniversário” em coreano e tiraram fotos quando ele apagou as velas.

Mas para o pastor, o Reverendo Man Ho Lee, a festa de domingo foi uma distração indesejada da missão a que ele tem se dedicado nas últimas semanas: a de manter sua filha com câncer terminal viva.

Sua filha SungEun Grace Lee, 28, tem câncer no cérebro e está paralisada do pescoço para baixo, mas consciente. Ela se comunica piscando e através da mímica de algumas palavras, e foi através desses sinais que ela transmitiu mensagens divergentes sobre sua vontade de morrer.

“O pastor Lee está muito chateado,” disse King Lee, 67, um amigo da família, enquanto a congregação cantava hinos no refeitório. “Ele disse: ‘Minha filha está doente, mas aqui estamos nós festejando'”.

“Por dentro ele está sofrendo”, acrescentou King Lee, indicando para seu coração, “mas ele é um pastor. Ele não pode demonstrar sofrimento”.

Grace Lee trabalhava como gerente de um banco de finanças antes de ter sido diagnosticada com a doença há mais de um ano. Depois de ter convulsões em sua casa no Queens no início de setembro, ela foi levada para o Hospital Universitário de North Shore, em Manhasset, Long Island.

Ela esteve internada desde então, tornando-se o centro de uma batalha legal entre seus pais, que dizem que apenas Deus irá determinar quando ela deve morrer, e os médicos, que insistem que ela lhes está pedindo que a deixem morrer.

Seus pais afirmaram que ela tomou sua decisão num momento no qual estava deprimida e sob a influência de medicação pesada, e que o hospital não tem tentado curá-la e sim apenas aliviado sua dor. No sábado, dia 6 de outubro, logo após a decisão de um tribunal de apelação que disse que ela era capaz de fazer suas próprias decisões a respeito de seu cuidado, seu advogado comentou que ela lhe disse que queria viver.

A família quer levá-la para uma casa de repouso, mas o hospital disse que a transferência seria impossível, pois eles não conseguem tirá-la dos aparelhos aos quais está ligada, disse Jay Kim, um amigo e porta-voz da família.

A família de Lee disse que ela sempre teve vontade de viver. Nascida na Coreia, mas educada nos Estados Unidos, ela passou anos ensinando na escola dominical na igreja de seu pai e participando de viagens missionárias para a África. Seus pais acrescentaram que ela também acredita em permitir que Deus determine seu destino.

“Ela nos disse que se sente bem”, disse Paul Lee, um de seus dois irmãos, orgulhosamente falando a respeito dos sinais de progresso da jovem. Este fim de semana, ele disse, ela começou a comer alimentos sólidos, pediu para que sua cama do hospital fosse reposicionada para que ela pudesse olhar para fora de sua janela, pediu para ir para fora em uma cadeira de rodas e solicitou que o hospital lhe fornecesse um sistema de comunicação mais sofisticado.

“Ela está muito animada”, disse ele.

Seus pais estavam no quarto com Paul Lee, a quem pediram que falasse em seu nome, pois eles só falam coreano.

Em uma de suas muitas queixas sobre o hospital, seus pais disseram que ela recebeu mais de uma dúzia de doses de medicamentos todos os dias para aliviar sua dor e para ajudá-la a dormir, mas não para tratar o tumor, pois eles disseram que os medicamentos não contribuem para que ela melhore. Com menos medicamentos, ela se torna mais esperançosa, disseram.

Sua família montou um exército de apoiadores, pedindo para que milhares de fiéis coreanos em Nova York e Nova Jersey rezassem por sua filha todos os domingos. Enquanto isso, em um pequeno porão na igreja, uma equipe de jovens membros da Igreja vem trabalhando há vários dias em uma campanha para que as autoridades a mantenham viva, criando páginas no Facebook e no Tumblr e coletando assinaturas para a petição. Em sua primeira semana, eles reuniram mais de 4 mil assinaturas, disse Kim, e estão prontos para apoiar sua causa em Washington, caso seja necessário.

“O hospital e o tribunal estão cometendo um erro só porque eles não sabem quem Grace realmente é”, escreveram os membros da igreja em uma carta a outras igrejas coreanas. “Ela é a pessoa mais otimista, positiva e persistente que existe e sempre incentivou os outros a fazerem o mesmo.”

[b]Fonte: The New York Times via Último Segundo[/b]

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