Pela primeira vez desde que registros começaram a ser mantidos em 1960, o número de mortes de crianças ao redor do mundo caiu para menos de 10 milhões ao ano, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgados nesta quinta-feira.

Este triunfo de saúde pública ocorreu, disseram representantes do Unicef, em parte devido a campanhas contra sarampo, malária e substituição do leite materno, e em parte pelo crescimento das economias de grande parte do mundo exceto a África.

A queda estimada, para 9,7 milhões de óbitos de crianças com menos de 5 anos, “é um momento histórico”, disse Ann M. Veneman, diretora executiva do Unicef, notando que ela mostra progresso na direção da Meta de Desenvolvimento do Milênio da ONU de reduzir a taxa de mortalidade infantil de 1990 em dois terços até 2015. “Mas não há espaço para complacência. A maioria destas mortes podem ser prevenidas e há soluções para elas”.

Interessantemente, disseram representantes do Unicef, a nova estimativa vem de pesquisas domiciliares feitas em 2005 ou antes, de forma que mal refletem o enorme afluxo de dinheiro que ingressou na saúde do terceiro mundo nos últimos anos por meio do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária; da Fundação Gates; dos programas do governo Bush para combate à Aids e malária. Por este motivo, a pesquisa dos próximos cinco anos deve mostrar avanços ainda maiores, eles disseram.

“Nós sentimos que estamos em um limiar no momento”, disse o dr. Peter Salama, o médico chefe do Unicef. “Em questão de poucos anos, isto tudo se traduzirá em uma queda empolgante”.

Os avanços mais importantes, disse o Unicef, incluem:

-As mortes por sarampo caíram 60% desde 1999, graças às campanhas de vacinação.

-Mais mulheres estão amamentando os bebês no peito em vez de misturarem produtos para bebês ou cereais com água suja.

-Mais bebês estão dormindo sob mosquiteiros.

-Mais estão recebendo doses de vitamina A.

Em 1960, cerca de 20 milhões de crianças morriam anualmente, mas a queda desde então foi de mais de 50%, porque a população mundial cresceu. Se bebês ainda morressem nas taxas de 1960, 25 milhões morreriam neste ano.

Ainda há grandes disparidades. As taxas mais altas de mortalidade infantil são encontradas nas regiões central e o ocidental da África, onde mais de 150 de cada 1.000 crianças nascidas morrerão antes de completar 5 anos. Nos países ricos da América do Norte, Europa Ocidental e Japão, a média é de cerca de seis.

O progresso mais rápido foi conseguido na América Latina e Caribe, na Europa Central e Oriental, no Leste Asiático e no Pacífico.

Apesar do avanço, dois conjuntos de países pioraram, disse o Unicef: os do sul da África, que foram mais duramente atingidos pela Aids, e aqueles que estiveram recentemente em guerra, como Congo e Serra Leoa.

O progresso econômico da Índia e da China ajudaram a puxar os números mundiais para cima. Mais meninas estão recebendo educação e conseguindo empregos, estão se casando mais tarde e tendo menos filhos, com maior probabilidade de sobreviverem.

Além disso, como a desnutrição é um fator por trás de 53% de todas as mortes de crianças, qualquer coisa que alimente as crianças – seja ajuda em grande escala durante períodos de fome ou apenas melhores sementes e fertilizantes – reduz as mortes.

Entre os países que apresentaram um progresso particularmente rápido desde 2000 estão a República Dominicana, Vietnã e Marrocos, que reduziram todas as mortes de crianças em mais de um terço.

Madagascar reduziu suas mortes em 41%, mesmo estando à beira de uma guerra civil em 2002, e São Tomé e Príncipe conseguiu reduzir suas mortes em 48%.

Domingos Ferreira, o embaixador de São Tomé e Príncipe na ONU, ficou agradavelmente surpreso ao saber que seu país – duas ilhas na dobra da África Ocidental – foi o que melhor se saiu no mundo.

Ele imagina que o crédito se deve à campanha nacional contra a malária que drenou pântanos, borrifou casas e forneceu mosquiteiros. “A malária costumava ser a principal causa de morte em nossas vidas”, ele disse. “E agora ouço que os leitos hospitalares em Príncipe estão vazios pela primeira vez”.

Em Madagascar, disse Salama, o que fez a diferença foram as doses de vitamina A, que reduziram drasticamente as chances de morte infantil por sarampo, diarréia ou malária.

Em geral, disse Veneman, os países que se saíram melhor se concentraram em estender medidas simples para as áreas rurais, com o foco na prevenção mais barata do que no tratamento mais caro.

A Etiópia, de onde muitos médicos e enfermeiros emigraram, treinou 30 mil funcionários de saúde comunitários para tarefas como pesagem de bebês, orientações sobre aleitamento materno, aplicação de vacinas, exame para malária e distribuição de mosquiteiros.

O sucesso, disse Veneman, “não está ligado apenas ao dinheiro, está ligado ao estabelecimento de prioridades”.

Fonte: The New York Times

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