O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse neste domingo, durante discurso na Universidade de Notre Dame, a mais importante universidade católica americana, que toda a polêmica envolvendo o aborto pode ser amenizada quando ambos os lados prestam atenção nos pontos que têm em comum, e não nas divergências insolúveis.

“Talvez nós não concordemos sobre o aborto, mas nós ainda podemos concordar que é uma decisão de apertar o coração da mulher tanto na dimensão moral quanto na espiritual. Então, trabalhemos juntos para reduzir o número de mulheres que procuram o abordo reduzindo as gestações indesejadas; tornando a adoção mais acessível; e dando cuidado e apoio àquelas que decidem ter seus filhos”, disse.

“Os que são contrários às pesquisas com células-tronco podem estar baseados na admirável convicção de que a vida humana é sagrada. Mas assim também se sentem os pais da criança com diabete juvenil que estão convencidos de que o sofrimento dela pode ser aliviado.”

Obama discursou em uma cerimônia de formatura e recebeu uma homenagem de honra ao mérito de Notre Dame, o que causou grande polêmica na comunidade católica americana já que as posições do presidente, principalmente a defesa do aborto e das pesquisas com células-tronco, contradizem a Igreja Católica Romana.

Poucos minutos depois de iniciar seu discurso, Obama foi interrompido por protestos contra a sua presença no evento. Mais tarde, durante a sua fala, outros protestos foram ouvidos.

O aborto divide os americanos há décadas, principalmente depois que, em 1973, a Suprema Corte julgou o caso Roe vs. Wade, no qual decidiu que nenhum Estado pode banir a prática. Na sexta-feira (15), uma pesquisa revelou que, pela primeira vem em 15 anos, a maioria dos americanos –53%– rejeita o aborto.

Para Obama, o aborto representa um obstáculo não apenas na busca de apoio dos católicos mas também na escolha do juiz que ocupará a vaga de David Souter –que irá se aposentar– na Suprema Corte.

“Quando abrimos corações e mentes para aqueles que podem não pensar como nós e podem não crer naquilo que nós acreditamos, é nessa hora que descobrimos a mínima possibilidade de um senso comum.” “A tradição de cooperação e compreensão foi a que aprendi, em uma própria vida, muitos anos atrás, também com a ajuda da Igreja Católica.”

Protestos

Nas últimas semanas, mais de 360 mil pessoas assinaram um documento pedindo que o evento fosse cancelado.

Neste sábado (16), cerca de cem manifestantes se reuniram diante do portão da universidade para protestar contra a visita. Durante o ato, um grupo decidiu realizar uma marcha dentro do campus, e 19 acabaram presos por invasão de propriedade –quatro também foram indiciados por resistência à prisão.

Na madrugada de sábado para este domingo, cerca de 150 pessoas –entre estudantes e familiares– fizeram uma vigília de orações pedindo que Obama desista de defender o aborto e a pesquisa com células-tronco; que as pessoas de todo o mundo tenham respeito pela vida; e que a Notre Dame e outras universidades católicas assumir sua identidade religiosa.

O bispo John D’Arcy, cuja diocese inclui a Notre Dame, apoiou a vigília e ainda liderou as orações durante cerca de 20 minutos. “Está claro que a Notre Dame não compreende o que significa ser católico quando faz este convite”, disse o cardeal Francis George, presidente da conferência episcopal católica.

Em meio à polêmica, os opositores do Partido Republicano viram uma oportunidade de criticar Obama. “É um ponto muito polêmico e acho que muitos católicos e americanos pró-vida estão muito preocupados. Eu acho inapropriado”, afirmou Michael Steele, o presidente do Comitê Nacional Republicano. “O presidente pode discursar, mas essa honra ao mérito não deveria ser concedida.”

Fonte: Folha Online

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