Citando os três livros sagrados da região, o Alcorão, a Torá e a Bíblia, o presidente americano, Barack Obama, declarou reconhecer que não é possível haver uma mudança nas relações do dia para a noite, mas prometeu fazer esforços para o diálogo e o respeito mútuo.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sugeriu em discurso nesta quinta-feira no Cairo “um novo começo” entre os Estados Unidos e os muçulmanos de todo o mundo, e afirmou que “o ciclo de suspeitas e discórdia precisa terminar”.

Ele afirmou que os Estados Unidos “não estão nem nunca estarão” em guerra contra o Islã, mas advertiu que seu país fará de tudo para enfrentar extremistas que representem uma ameaça à segurança do país.

Ao fim de seu discurso na Universidade do Cairo, na capital egípcia, o presidente americano foi ovacionado pela platéia. O evento já era esperado como o ponto alto de seu giro pelo Oriente Médio, que tem o objetivo de tentar reduzir as tensões entre seu país e os países árabes ou islâmicos.

“Venho aqui para buscar um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos em todo o mundo; um começo baseado em interesses e respeito mútuos; um começo baseado na verdade de que os Estados Unidos e o Islã não são únicos; e de que não precisam competir entre si. Pelo contrário, eles se sobrepõem e dividem princípios comuns – princípios de Justiça e progresso, tolerância e dignidade de todos os seres humanos”, afirmou Obama em seu discurso.

Obama disse que as tensões que marcam as atuais relações entre os Estados Unidos e os muçulmanos em todo o mundo “estão enraizadas em forças históricas que vão além de qualquer debate político atual” e que são exploradas por uma minoria de muçulmanos extremistas.

“Enquanto nossas relações forem definidas por nossas diferenças, vamos fortalecer aqueles que semeiam o ódio no lugar da paz e que promovem o conflito no lugar da cooperação que poderia ajudar todos os nossos povos alcançarem a Justiça e a prosperidade. Este ciclo de suspeitas e discórdia precisa acabar”, afirmou.

Temas sensíveis

O presidente tocou em áreas sensíveis para o Oriente Médio. Na questão entre israelenses e palestinos, por exemplo, adotou palavras duras para ambos os lados.

Obama disse que os laços entre Israel e os EUA são “inquebráveis” e que os palestinos “devem abandonar a violência”. “A resistência por violência e mortes é errada”, afirmou.

Por outro lado, Obama disse que “a situação para o povo palestino é intolerável”. “Os israelenses devem reconhecer que da mesma maneira que não se pode negar a Israel o direito de existir, tampouco se pode aos palestinos.”

Na questão dos assentamentos israelenses da Cisjordânia, Obama disse que “não pode haver progresso em direção à paz sem interromper essa construção”.

Ele também se pronunciou sobre a questão nuclear iraniana. Defendeu o direito do Irã à energia nuclear para fins pacíficos. “Nenhuma nação pode sozinha indicar e escolher que nações podem deter capacidade nuclear”, disse. Mas advertiu que não deve haver uma corrida nuclear no Oriente Médio.

Antes do discurso, o mais importante líder religioso do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que os Estados Unidos são “profundamente odiados” na região.

Sobre democracia, Barack Obama afirmou que “a América não pressupõe saber o que é melhor para todo mundo”. “Nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto sobre uma nação por outra.”

Ele também falou dos direitos das mulheres: “Nossas filhas podem contribuir para a sociedade tanto quanto nossos filhos”.

Ciclo de discórdia

Segundo Obama, sua convicção de que os Estados Unidos e o mundo islâmico podem viver em harmonia advém de sua experiência pessoal, como descendente de uma família queniana que incluía gerações de muçulmanos, e do fato de ter passado parte da infância na Indonésia, o maior país islâmico do mundo.

Citando os três livros sagrados da região, o Alcorão, a Torá e a Bíblia, o presidente americano declarou reconhecer que não é possível haver uma mudança nas relações do dia para a noite, mas prometeu fazer esforços para o diálogo e o respeito mútuo.

Falando aos jovens muçulmanos, Obama admitiu que há dificuldades para a aproximação, mas se mostrou esperançoso. “Há muito a temer, muita desconfiança. Porém se nós escolhermos ser guiados pelo passado, nunca avançaremos.”

O presidente americano – que já havia se reunido pela manhã com o presidente egípcio, Hosni Mubarak – comentou que durante sua passagem pela Turquia deixou claro que “os Estados Unidos não estão – nem nunca estarão – em guerra contra o Islã”.

Mas que o país confrontará sem descanso “os extremistas que representam uma ameaça grave à nossa própria segurança”.

Obama afirmou ver como parte de suas responsabilidades como presidente dos Estados Unidos “a luta contra estereótipos negativos do Islã em qualquer lugar onde eles apareçam”, mas advertiu de que “os mesmos princípios devem ser aplicados para as percepções dos muçulmanos sobre os Estados Unidos”.

Repercussão

A Autoridade Palestina (AP) elogiou o discurso de Obama. Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente da AP, Mahmoud Abbas, afirmou que se tratava de “um bom início” e avaliou a fala do líder norte-americano como “clara e franca”. “Os comentários sobre a intolerável situação palestina é uma mensagem que Israel deve entender bem”, disse. O Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza e não reconhece Israel, avaliou o discurso como mostra de uma “mudança palpável” na política externa norte-americana, porém também notou contradições.

Fonte: BBC Brasil e Bem Paraná

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