Desaparecido desde domingo, após levantar vôo amarrado a mil balões de festa, em Paranaguá (PR), o padre Adelir de Carli não conseguiu terminar um curso de vôo iniciado em 2005.

Segundo o instrutor de vôo Márcio Lichtnow, que foi seu professor em um curso de parapente (espécie de pára-quedas retangular) em Curitiba, por falta de disciplina e assiduidade, o padre foi “convidado a se retirar” da escola.

O instrutor diz que o religioso “achava que era autodidata”. “Ele não acatava orientações. Não sabia voar e, mesmo assim, se jogou nessa”, disse o piloto, que afirmou ter 15 anos de experiência.

No domingo, Carli decidiu decolar mesmo com tempo ruim. Seu plano era ficar 20 horas no ar, em direção ao interior do Paraná, mas acabou se deslocando para o oceano.
A Marinha continuou ontem as buscas pelo padre, no litoral sul de Santa Catarina. Houve incursões em alto-mar, a mais de 50 km da costa, e em várias ilhas. Nenhuma pista foi localizada até o início da noite.

Amigos do padre o defenderam de acusações de imperícia e inexperiência. “Ele tinha todo o preparo para fazer o vôo. Era qualificado e praticante de parapente. O que aconteceu foi uma fatalidade, como em um acidente de trânsito”, afirmou o empresário José Carlos Bom, pára-quedista e membro da equipe de apoio de Carli.

O comerciante Ernesto Klein, coordenador do projeto de vôo do padre, disse que ele não é inexperiente, pois praticou parapente por mais de três anos. “Estão falando muita coisa que não é verdade.”

Segundo o ex-instrutor do religioso, Carli freqüentou apenas 10% das aulas do curso de parapente. “Ele só fez a introdução do curso, que tem 40 horas de aulas teóricas.” Se tivesse completado o curso, diz o professor, Carli poderia ter evitado o incidente de domingo. Saberia, por exemplo, avaliar que as condições meteorológicas não eram adequadas.
Ainda segundo Lichtnow, o aparelho de GPS que o padre levava não era indicado para vôos, mas para trilhas em solo. “Para voar, é preciso um aparelho melhor, com mapa, informações sobre situação do solo e velocidade de deslocamento.”

Comoção

Em Paranaguá, na paróquia de Carli, fiéis fazem jejum, adiam compromissos familiares e promovem correntes de oração para que o religioso seja localizado vivo.

“Era como se ele fosse um pai para nós”, disse o aposentado Domingos Alves Andrioli, 63.

Uma dona-de-casa de 38 anos, que pediu para não ser identificada, afirmou que jejuava para que o padre fosse encontrado com vida.

Fonte: Folha de São Paulo

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