O papa Bento 16 fez um gesto de aproximação em relação à China na quarta-feira, durante um histórico concerto realizado por uma orquestra daquele país no Vaticano, o que, segundo espera a Igreja Católica, melhorará as relações distantes mantidas pelos dois há décadas.
A Orquestra Filarmônica da China apresentou o “Réquiem” de Mozart e músicas do folclore chinês ao lado do Coro da Ópera de Xangai, em um salão lotado da Santa Sé.
Bento 16, nascido na Alemanha, parecia feliz ao ver a execução de uma música religiosa européia por uma orquestra de um Estado oficialmente ateu e que já ridicularizou o papado em outras oportunidades.
No pronunciamento que realizou ao final da primeira parte do concerto, o líder católico não poupou elogios à população chinesa e alimentou a esperança de que a música pudesse ter sucesso onde a diplomacia havia fracassado.
“A música e a arte em geral podem funcionar como um instrumento privilegiado para a aproximação e o conhecimento e estima recíprocos entre diferentes populações e culturas”, afirmou o papa, que também proferiu palavras de agradecimento em chinês.
Alguns diplomatas afirmam que os resultados de longo prazo desse concerto de feitio inédito poderiam ser semelhantes à diplomacia do “pingue-pongue” realizada na década de 1970, quando jogos entre equipes esportivas levaram ao estabelecimento de relações entre os governos norte-americano e chinês.
Bento 16 fez da melhoria das relações com a China uma prioridade de seu papado. Em junho, o líder católico divulgou uma carta aberta dizendo que tentava restabelecer relações diplomáticas plenas com a China, rompidas dois anos depois da subida ao poder dos comunistas, em 1949.
Na China de hoje, os católicos dividem-se entre os que pertencem a uma Igreja referendada pelo Estado e uma Igreja ilegal cujos membros juram lealdade ao Vaticano.
“Ao recebê-los nesta noite, meus estimados artistas chineses, o papa pretende estender a mão a toda a população chinesa, e em especial aos seus companheiros de cidadania que compartilham da fé em Jesus e que estão unidos por meio de um laço espiritual especial com o Sucessor de Pedro”, disse o pontífice.
As relações entre a China e o Vaticano atingiram momentos críticos nos últimos anos. Em uma dessas oportunidades, a Igreja atacou o país asiático por apontar bispos sem a sanção do papa.
Em sua mensagem a Bento 16, o maestro Yu Long descreveu a noite como um “glorioso momento” de importância histórica.
Em uma entrevista concedida à Reuters antes do concerto, Yu identificou paralelos entre a apresentação no Vaticano e aquela da Filarmônica de Nova York na Coréia do Norte, em fevereiro.
Fonte: Reuters