O papa Bento 16 inicia nesta sexta-feira (8) sua primeira visita ao Oriente Médio, em um momento de movimentos políticos para um avanço nas negociações do processo de paz na região.

Serão oito dias de passagem do Sumo Pontífice pela Terra Santa, onde ele visitará sítios bíblicos sagrados na Jordânia e em Israel, como o memorial de Moisés, no monte Nebo, e o rio Jordão (local do batismo de Jesus). O papa também manterá encontros com autoridades muçulmanas e judaicas.

Às vésperas da chegada do papa a Amã (capital da Jordânia), o rei Abdullah 2°, chefe de Estado da Jordânia, declarou que Israel, Síria, Líbano e outros países árabes estão dispostos a sentar juntos para tentar resolver o conflito do Oriente Médio sob um novo acordo que está em discussão com os Estados Unidos.

Pano de fundo da questão: a busca por reconciliação nas relações entre palestinos e israelenses, agora apimentada com o interesse do governo de Barack Obama em dialogar com o Irã. Nessa negociação, tudo parece servir como moeda de troca. Os Estados Unidos tentam convencer as nações árabes a tornar o acordo de paz na região mais adequado aos desejos de Israel. Obama deve receber Binyamin Netanyahu no próximo dia 18. Israel quer dos Estados Unidos uma posição mais rígida com o Irã.

Onde entram nisso o papa Bento 16 e a visita que fará à Jordânia? Dois dias antes do início da viagem, Bento 16 já expôs a tônica do que devem ser seus discursos na região: o desejo de paz e unidade no Oriente Médio. O papa anunciou no meio da semana passada que fará a viagem como “peregrino da paz”.

País mais estável politicamente da região, e por conta disso considerado um dos mais pacíficos, a Jordânia tenta se apresentar como um importante mediador nessas negociações, assim como Egito e Arábia Saudita. O rei Abdullah 2º deve quebrar o protocolo e receber o papa no aeroporto de Amã, antes da visita privada do pontífice a ele e à rainha Rania, na tarde desta sexta.

Além das óbvias razões políticas, a estabilidade interessa à Jordânia dentro da estratégia do país de turbinar o turismo na região. A Jordânia recebeu em 2008 cerca de 1,2 milhão de turistas, na maioria atraídos pelas atrações bíblicas e naturais, como o mar Morto e a belíssima e exótica cidade de Petra.

A própria viagem do papa já é vista como um fator de alavancamento para o crescimento do turismo no país.

O papa disse que conversará com representantes das comunidades judaicas e muçulmanas “com as quais foram dados grandes passos à frente no diálogo e nas trocas culturais”.

A julgar pelo que afirmou o bispo auxiliar da Jordânia, Selim Sayegh, a Jordânia quer mesmo ser um exemplo de paz para a região. Num país onde 92% da população é de religião muçulmana (sunitas) -só 6% são cristãos, divididos entre ortodoxos e católicos-, Sayegh é de uma das mais tradicionais famílias cristãs da Jordânia. Autor de livros sobre cristãos e palestinos, como “Jordan: a Pilgrim’s Guide” (Guia dos Peregrinos da Jordânia), o bispo vê nessa viagem do papa implicações políticas maiores do que as da época da viagem que João Paulo 2° fez ao país em 2000.

“João Paulo 2° fez uma viagem muito curta. Foram 28 horas na Jordânia. Nessa viagem agora, além de mais longa, o papa passará por vários locais sagrados, de peregrinação, visitará deficientes”, afirma Sayegh.

O papa conseguirá reforçar a necessidade de paz na região? “Paz é o que buscamos. A Santa Sé sempre pregou a paz. A viagem (de Bento 16) é uma missão de unidade. O papa vai encontrar líderes muçulmanos, cristãos e judeus juntos, para darmos uma mensagem de paz. Nós, aqui, somos cidadãos. Não viemos de fora. Somos um só povo, não formamos um gueto cristão, um gueto muçulmano. Existe (na Jordânia) uma tradição de fraternidade entre cristãos que deve haver não somente aqui, mas no mundo inteiro. A Jordânia é um exemplo e esperamos que seja sempre assim”, disse o bispo, que mencionou como parte de exemplo de convivência a prevista presença do rei Abdullah 2º (que é muçulmano) no local do batismo de Jesus junto com o papa.

O papa Bento 16 é o segundo pontífice a visitar oficialmente a região, segundo o Vaticano. João Paulo 2º esteve no Oriente Médio em 2000. Em 1964, o papa Paulo 6º esteve na Terra Santa, mas em viagem não-oficial, numa passagem de apenas duas horas.

A visita de Bento 16 inclui missas a céu aberto em Jerusalém, Belém e Nazaré. Em Israel, a passagem do papa está sendo considerada um evento histórico e de “segurança complexa”. O país deve mobilizar cerca de 80 mil pessoas no esquema de segurança para a visita do pontífice.

“É um esforço enorme esse no qual vamos trabalhar, e eu imagino que o plano será mais bem articulado pelo presidente dos Estados Unidos depois que o primeiro-ministro Netanyahu visitar Washington”, disse Abdullah.

Para Israel, não há progresso nas conversas de paz com os palestinos se o Irã não entrar no jogo. O que mais incomoda Israel e países árabes como Egito e Arábia Saudita é o apoio iraniano a grupos militantes islâmicos como o Hizbollah no Líbano e o Hamas na faixa de Gaza.

Até junho, depois de conversar com os principais líderes da região, Obama deve detalhar os planos para um novo acordo de paz.

JORDÂNIA

Nome oficial: Reino Hachemita da Jordânia
Localização: Oriente Médio
Nacionalidade: jordaniana
Natureza do Estado: monarquia parlamentarista
Capital: Amã
Divisão: oito Províncias
Moeda: dinar jordaniano
Língua: árabe
População: 5,8 milhões (est. para julho de 2009)
Religião: islâmica (sunita), minoria cristã
Expectativa de vida: 78,87 anos

Fonte: UOL

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