O Papa Francisco lidera uma missa marcando o Dia Mundial da Paz na Basílica de São Pedro no Vaticano, 1º de janeiro de 2020. Foto: Reprodução
O Papa Francisco lidera uma missa marcando o Dia Mundial da Paz na Basílica de São Pedro no Vaticano, 1º de janeiro de 2020. Foto: Reprodução

Neste fim de semana, papa Francisco abre o que pretende ser o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja Católica, uma religião que, aos longo dos séculos, se tornou símbolo de hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência — e, de quebra, comanda um Estado, o Vaticano, de forma teocrática.

Nos próximos dois anos, Francisco quer que a imensa maioria dos católicos — idealmente, todos os 1,3 bilhão que se declaram assim — sejam ouvidos sobre o futuro da Igreja. Para tanto, conta com impulsos de comunidades locais, em uma primeira fase, assembleias regionais, no estágio seguinte e, por fim, o Sínodo dos Bispos marcado para acontecer em 2023 no Vaticano.

Temas que vêm sendo trazidos à tona mais recentemente, como maior participação feminina na tomada de decisões da Igreja e mais acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional — de homossexuais a divorciados em segunda união —, devem aparecer de forma recorrente nesse processo de consulta pública, a maior já realizada na milenar história do catolicismo.

Além disso, Francisco deve utilizar esse momento para consolidar uma aposta evidente em seu pontificado reformador. Ao definir que o próximo sínodo terá como tema a própria sinodalidade (maneira de ser e de agir da Igreja), ele se inspira no modo de vida dos primeiros cristãos, cujas decisões eram tomadas de forma colegiada.

Evidentemente que isso não significa que a Igreja abraçou a democracia. As decisões seguem como sempre: respeitando a hierarquia tradicional — a consulta pública é que é democrática, mas caberá ao papa a palavra final.

Contudo, se o sucesso for atingido, a instituição terá dado um passo importante. Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a chamada sinodalidade pode deixar de ser um método para se tornar um jeito de pensar. O que significa que o modelo levado ao extremo por Francisco dificilmente poderá ser deixado de lado, mesmo quando outro for o papa.

O Sínodo

O Sínodo é um processo de 2 anos, começando de 10 de outubro de 2021 a outubro de 2023. A fase de escuta diocesana vai até abril de 2022 e será seguida por uma fase continental de setembro de 2022 a março de 2023. A última “fase da Igreja universal” culminará na tradicional assembleia do Sínodo dos Bispos no Vaticano, em outubro de 2023.

O tema do 16º Sínodo dos Bispos é: “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”. Esse será diferente de qualquer outro anterior. A expectativa é de que o maior número de fiéis, dentre os 1,3 bilhão que se reconhecem adeptos do catolicismo, participem do processo e sejam ouvidos sobre o futuro da Igreja.

“Permitir que todos participem é um dever eclesial essencial!”, disse o papa Francisco durante reflexão no Vaticano neste sábado (9.out.2021), véspera da abertura do Sínodo. “Não é necessário criar outra Igreja, mas sim criar uma Igreja diferente”, declarou.

O papa Francisco já realizou 4 sínodos desde que assumiu o Vaticano. Os 2 primeiros debateram a família, o 3º teve os jovens como tema e o último, de 2019, trouxe para o centro da Igreja a discussão sobre a Amazônia.

O próximo Sínodo deve discutir a própria Igreja, possíveis modernizações e deve abordar temas polêmicos como sobre uma maior participação feminina na tomada de decisões da Igreja e mais acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional.

“No único Povo de Deus, portanto, caminhemos juntos, a fim de experimentar uma Igreja que recebe e vive este dom da unidade e está aberta à voz do Espírito”, disse o Papa Francisco. Ele destacou, no entanto, que o Sínodo é um “momento eclesial”, não um parlamento ou uma investigação de opiniões.

Ele apontou que “comunhão” e “missão” podem correr o risco de permanecer um pouco abstratas, a menos que a sinodalidade seja expressa concretamente em cada passo da jornada e atividade sinodal, encorajando o envolvimento real de todos e de cada um. “Todos os batizados são chamados a tomar parte na vida e na missão da Igreja.”

Fonte: Terra e Poder 360

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