O Papa Bento XVI estendeu a mão nesta quinta-feira em Verona (norte da Itália) aos intelectuais que se preocupam com a perda dos valores cristãos na sociedade, os chamados “ateus devotos”, para que eles se unam à Igreja em prol da reconquista espiritual da Europa.

O Papa se dirigiu aos assistentes do Congresso Eucarístico da Igreja Italiana, a maior da Europa Ocidental, fortemente afetada pelo distanciamento dos fiéis.

Bento XVI, que viajará no fim de novembro à Turquia, lamentou que o mundo ocidental se considere como exemplo de “uma cultura universal e auto-suficiente”.

Para o chefe da Igreja Católica, o mundo ocidental não consegue dar uma resposta às “interrogações fundamentais sobre o sentido e a dimensão de nossa vida”, disse.

O Papa reconheceu que “numerosos e importantes homens do mundo da cultura, inclusive muitos que não compartilham a mesma fé ou não a praticam”, estão preocupados com os riscos que a Europa corre se romper com suas raízes cristãs.

Trata-se de uma clara alusão à nova corrente de intelectuais, catalogados na Itália como os “ateus devotos”, que se aproximam cada vez mais da Igreja Católica por sua defesa dos valores e princípios europeus.

Entre os expoentes mais emblemáticos dessa corrente figura o ex-presidente do Senado Marcello Pera e a jornalista Oriana Fallaci, morta recentemente, que em seus últimos livros fustigava a chamada “Eurábia” (Europa mais Arábia), um continente que segundo ela está se convertendo “numa província do Islã, uma colônia do Islã”.

Para esses intelectuais, a Igreja Católica defendeu durante séculos os valores europeus, por isso eles temem que sua perda de influência termine por debilitar as relações do velho continente com o resto do mundo.

Bento XVI recordou que os cristãos estão abertos aos valores autênticos da cultura moderna, como o conhecimento científico, o desenvolvimento tecnológico, os direitos do homem, a liberdade religiosa e a democracia.

Com a mesma ênfase, assegurou que a Igreja “não quer ser ator político” na sociedade, mas solicitou aos católicos italianos que se oponham com “determinação” a qualquer lei que debilite a família tradicional.

O pedido foi feito diante dos principais dirigentes políticos italianos e em particular diante de vários líderes da coalizão governamental de centro-esquerda, que defendem o reconhecimento legal das uniões livres, tanto de homossexuais quanto de heterossexuais, assim como a legalização da eutanásia para os gravemente doentes que pedem o direito de morrer.

O Papa convidou os católicos a “combater com determinação o risco de políticas e leis que contradizem os valores fundamentais” da natureza humana.

“É preciso evitar que se introduzam na organização pública outras formas de união, as quais contribuem para desestabilizar a família” fundada no matrimônio, disse.

O Pontífice aplaudiu a Igreja italiana pelo “testemunho aberto e valente que oferece” diante de tais temas e ressaltou que ela serve de exemplo “útil e estimulante” para outras nações.

Fonte: AFP

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