Num grupo de dez argentinos, apenas um não acredita em Deus. Dentre os nove crentes, sete são católicos, um é evangélico, e o último pode ser judeu, islâmico, espírita ou de outro credo, revela pesquisa do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas.

Os dados foram revelados pela primeira pesquisa sobre crenças e atitudes religiosas na Argentina, realizada pelo Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) em parceria com quatro universidades nacionais. Foram ouvidas 2.403 pessoas maiores de 18 em todo o país.

O diretor do trabalho e pesquisador do Conicet, sociólogo Fortunato Mallimaci, apresentou ontem os resultados preliminares que confirmam a condição de crente da grande maioria dos argentinos.

Os dados também indicam que 23% dos residentes no país freqüentam com regularidade espaços de culto, 76% da população são católicos. Indiferentes, agnósticos, ateus ou sem religião totalizam 11%.

Jesus Cristo lidera o ranking de crenças, seguido pelo Espírito Santo e a Virgem Maria. Do total de entrevistados, 92% disseram acreditar no homem que foi crucificado em Jerusalém 2000 anos atrás; 85% acreditam no Espírito Santo e 80% na Virgem. A lista segue com anjos (78%), santos (76%), “energia” (64%) e curandeiros (39%).

A pesquisa foi realizada através do preenchimento de formulários domiciliares segundo método probabilístico que, em termos sociológicos, assegura um nível de credibilidade de 95% e uma margem de erro de 2%. A pesquisa foi realizada “com o maior rigor científico e a melhor boa fé”, disse o secretário de Culto, Guillermo Oliveri.

Mais de 75% dos argentinos afirmaram freqüentar pouco, ou nunca, os lugares de culto. Outros 23,8% participam com freqüência cerimônias de culto, enquanto 26.8% disseram nunca assistir a cerimônias religiosas.

A pesquisa é fruto do trabalho conjunto do CEIL, do Conicet, e das universidades nacionais de Buenos Aires, Rosário, Cuyo e Santiago del Estero. Contou com o financiamento da Agência Nacional de Promoção Científica e Tecnológica, englobando um projeto de investigação que se propõe a analisar as relações entre religião e a estrutura social na Argentina do século XXI.

Depois de quase quatro décadas sem medições científicas em nível nacional, o estudo do Conicet quita uma velha dívida argentina. “Desde o censo nacional de 1960 não se perguntava a crença e o pertencimento religioso. Somos o único país da América Latina que não tem este dado”, afirmou Mallimaci ao apresentar os resultados preliminares da investigação, que terminará dentro de três anos.

Até o momento, os únicos dados sobre crenças e atitudes religiosas da sociedade argentina em nível nacional tinham sido recolhidos no censo de 1960, quando 90% dos entrevistados se declararam católicos.

A pesquisa revelou que, geralmente, recorre-se a Deus nos momentos de dor, sendo que 45% dos entrevistados confirmaram essa tendência.

O noroeste argentino corresponde à região mais católica do país. O sul é a região mais evangélica, enquanto o entorno da cidade de Buenos Aires a mais indiferente para o religioso.

O sociólogo indicou, como exemplo, que enquanto 11% das pessoas entrevistadas dizem não crer, 95% foram batizados. A taxa de casamentos religiosos é significativamente menor do que a de batismo: quem se afasta da religião deixa de praticá-la.

O estudo também pesquisou as opiniões dos entrevistados a respeito de questões controvertidas como aborto, educação sexual em sala de aula, uso de anticonceptivos e sacerdócio de mulheres.

Dentre os entrevistados, 63% opinaram que o aborto deve ser permitido apenas em circunstâncias específicas, tais como violação, perigo de morte da mulher ou má formação do feto.

Mallimaci destacou que 68% dos que assim opinaram são católicos e deduziu que os resultados “revelam uma autonomia de consciência e decisão e uma tomada de distância dos postulados doutrinários das instituições religiosas”. No entanto, a resposta eleita pela maioria coincide com a posição das autoridades da Igreja sobre a legislação do aborto.

Quase 60% pensam que aos curas deveria ser permitido formar uma família.

“Estamos diante de complexos processos de desinstitucionalização religiosa e de individualização das crenças”, revelou a pesquisa, dando como dados que 61% dos entrevistados se relacionam com Deus “por conta própria”, sem a intervenção de instituições religiosas. Dentre aqueles que se relacionam com Deus por intermédio de uma instituição eclesial, 44% são evangélicos.

Fonte: ALC

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