Depois de uma investigação que durou um ano e cinco meses, a Polícia Federal do Rio indiciou por crime eleitoral os ex-governadores Rosinha e Anthony Garotinho. Em troca de voto, Anthony e Rosinha são acusados de beneficiar grupo em concurso.

Também foram indiciados o deputado federal Geraldo Roberto Siqueira, o Geraldo Pudim (PMDB-RJ); e o deputado estadual Álvaro Lins (PMDB), ex-chefe da Polícia Civil do Rio.

Os quatro são acusados de beneficiar um grupo formado por excedentes de um concurso para inspetor de Polícia Civil, em troca de votos nas últimas eleições. Cada um dos aprovados teria se comprometido, segundo as investigações, a conseguir até 50 votos para os candidatos Pudim e Lins. Pelo menos 300 excedentes foram incorporados aos quadros da Polícia Civil.

O inquérito da PF sobre crime eleitoral foi um dos desdobramentos da Operação Gladiador, que apurou a ação, no Rio de Janeiro, de máfias de caça-níqueis, inclusive o suposto envolvimento de policiais com as quadrilhas que exploram o jogo ilegal.

Nas investigações sobre a ação das máfias, acusadas de comprar proteção da Polícia Civil fluminense, a PF encontrou indícios de que Lins, com apoio de Garotinho, Rosinha e Pudim, “comprou” votos de candidatos a um concurso para admissão na Polícia Civil que obtiveram a pontuação mínima, mas não foram chamados para fazer o curso de policial.

Um dos fatos que causaram estranheza na PF foi o fato de que o concurso, realizado em 2005, sofreu mudanças em relação ao passado. Originalmente, a nota mínima para aprovação era 60%, e seria encaminhado para a Academia da Polícia Civil um número de candidatos equivalente ao dobro da quantidade de vagas.

Com as modificações, a nota mínima caiu para 50%, e só foram aprovados candidatos em número suficiente para preencher os postos oferecidos no concurso.

Suspeita-se que, com isso, Lins, que chefiava a Polícia Civil no governo de Rosinha, tenha criado os excedentes, já que aumentou o número de candidatos com a nota mínima e reduziu o espaço para eles -, gerando uma clientela para, depois, “vender” uma facilidade, em troca de votos. Cada excedente se comprometeria a conseguir até 50 votos para o chefe.

Contestação

Em seu blog, Garotinho se disse vítima da perseguição “de um delegado da Polícia Federal a serviço do PT e do governador Sérgio Cabral, que é unha-e-carne com o presidente Lula”. “O fato de um candidato comparecer a uma reunião de uma categoria para ouvir as suas reivindicações não constitui crime algum”, afirmou, no texto.

“Aliás, o atual governador Sérgio Cabral compareceu a um encontro (…), onde o governador assinou um documento se comprometendo a chamá-los em janeiro e ainda vestiu uma camisa dos concursados, que pediam justiça.”

Garotinho também divulgou um panfleto com uma fotografia de Cabral em encontro do movimento dos excedentes e com declarações assinadas pelo então candidato ao governo, prometendo convocar os excedentes.

Lins distribuiu nota afirmando não haver novidades nas acusações, segundo ele já objeto de duas ações que tramitaram no Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) e foram arquivadas. “Nada tenho a temer, visto que todos os fatos ocorreram de maneira pública, sob a fiscalização eleitoral, e visavam tão somente o aumento do efetivo da polícia e o benefício da população”, afirmou no texto.

Pudim também emitiu nota, dizendo desconhecer o assunto e reclamando da ação da imprensa. “É lamentável o que vem ocorrendo no País. Essa inversão do ônus da prova ao acusado é uma afronta ao Estado Democrático de Direito. Somos denunciados, julgados e condenados por um jornalista que, ao prazer de suas conveniências, descontextualiza os fatos e nos condena com argumentos de presunção de culpa”, afirmou.

Fonte: Estadão

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