O pregador-chefe da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, disse nesta sexta-feira, em um sermão na presença do papa, que a Igreja Católica e o sumo pontífice são vitimas de um “ataque violento que recorda o antissemitismo” devido às alegações de abusos sexuais cometidos por sacerdores.

Membro da ordem dos Frades Menores Capuchinhos, Cantalamessa é uma figura influente no Vaticano, sendo o único autorizado a pregar para o papa. A Casa Pontifícia é o nome dado ao grupo de pessoas que convive com o papa na Santa Sé.

Na homilia, Cantalamessa leu a carta de um amigo judeu, que escreveu para manifestar solidariedade ao papa por causa das alegações de abusos.

“Esta sendo realizado um ataque violento contra a Igreja, contra o papa e todos os fiéis no mundo todo. A passagem das responsabilidades pessoais e da culpa pessoal para a coletiva recorda os aspectos mais vergonhosos do antissemitismo”, disse o religioso, logo após pedir permissão ao papa para ler a carta.

“Se fala muito fora daqui sobre a violência contra as crianças, com a qual infelizmente se mancharam muitos elementos do clero”, continuou o pregador.

“Por uma rara coincidência, este ano nossa Páscoa cai na mesma semana da Páscoa hebraica, que é a matriz dentro da qual ela se formou. Isto nos leva a pensar nos irmãos judeus que sabem, por experiência, o que significa ser vitima da violência coletiva e que por isto sabem reconhecer os sintomas.”

Na semana passada, Cantalamessa já havia feito referência às alegações contra o clero, afirmando que a igreja deveria reagir com humildade aos ataques da mídia por causa das alegações de abusos sexuais.

Reações

Os comentários feitos por Cantalamessa nesta sexta-feira provocaram reações tanto de grupos judaicos como dos representantes das vítimas dos abusos cometidos por sacerdotates.

O secretário-geral do Conselho Central Alemão de Judeus, Stephan Kramer, descreveu as declarações do pregador-chefe como “ofensivas e repulsivas”.

Um porta-voz de grupo americano de apoio a vítimas de abusos disse que o sermão foi “impulsivo e irresponsável”.

David Goldberg, da Sinagoga Liberal Judaica de Londres disse à BBC que a comparação entre as críticas ao papa e o antissemitismo é uma analogia inapropriada e demonstra que o Vaticano está fora da realidade.

Papa

Em meio à polêmica, Bento 16 celebra, nesta sexta-feira, uma das cerimônias mais marcantes da Semana Santa, a Via Sacra, durante a qual o papa percorre o caminho que Jesus Cristo fez até ser crucificado.

No discurso que fez na quinta-feira, durante a cerimônia da crisma na Basílica de São Pedro, quando os sacerdotes são convidados a renovar os votos que fizeram quando foram ordenados padres, o papa Bento 16 não fez menção ao problema dos abusos.

Na Praça de São Pedro, muitos fiéis que participam das cerimônias da Semana Santa, se dizem indignados com os escândalos.

“É um escândalo assustador. Se tivessem punido e processado os culpados desde o início não teríamos chegado a este ponto”, disse à BBC Brasil Loredana Ciarra, 68 anos, que se definiu como católica praticante.

Segundo ela, por causa dos escândalos, agora muitas pessoas tem receio que os filhos frequentem as paróquias.

“Antes a gente deixava os meninos no oratório e ficava tranquilo, agora ninguém confia mais. Minha filha, por exemplo, tirou meu neto do catecismo e disse que não vai mais deixá-lo fazer a primeira comunhão”, confessou.

Para algumas pessoas, a imagem do papa ficou abalada depois de acusações de abusos cometidos por religiosos em diversos países.

“Eu duvido da honestidade do papa diante dos escândalos. Ate 20 anos atrás estes abusos eram normais, agora eles são obrigados a admitir”, disse Eolo Lucchetti, 70 anos.

Embora considerem que a imagem da Igreja Católica tenha sido manchada por causa do escândalo dos abusos cometidos por sacerdotes, muitos católicos afirmam que não perderam a fé católica.

“Os abusos são inconcebíveis, sobretudo porque cometidos por pessoas nas quais as vitimas confiavam. Os culpados devem ser expulsos da igreja. Mas a fé é algo pessoal e os escândalos não vão mudar minha fé católica”, disse à BBC Brasil Alessio, de 19 anos.

Fonte: BBC Brasil

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