O projeto de construção de uma das maiores mesquitas da Alemanha, na cidade de Colônia, reativou o debate sobre a integração dos estrangeiros em uma cidade que já contra com 12% de muçulmanos.

Atualmente uma antiga fábrica de produtos farmacêuticos, situada entre um posto de gasolina e uma barulhenta avenida da cidade, faz as vezes de templo de oração, que é freqüentado por milhares de fiéis, principalmente nas sextas-feiras.

“Você acha realmente que devemos continuar orando nesta barraca miserável”, lamenta Bekir Alboga, encarregado do diálogo intercultural dentro da União Turca Islâmica de Assuntos Religiosos (DITIB)), proprietária do edifício.

“Como os cristãos em suas igreja e os judeus em suas sinagogas, nós queremos rezar numa mesquita”, afirmou Alboga.

Dessa forma a DITIB, a organização islâmica mais importante da Alemanha, controlada pelo Estado turco, decidiu construir uma nova mesquita e as obras estão previstas para o fim do ano.

O projeto prevê dois minaretes de 55 metros, uma cúpula de vidro de 34,5 metros de altura e capacidade para 2.000 pessoas.

Todos os partidos políticos se pronunciaram em favor do projeto, mas as autoridades eclesiásticas da cidade apelidada de “Roma do Norte” vêem o projeto com apreensão.

O arcebispo de Colonia, o ultraconservador Joachim Meisner, disse compreender os temores de alguns fiéis em relação à nova mesquita.

Em um país que durante longo tempo considerou seus imigrantes “trabalhadores convidados” (“gastarbeiter”), alguns se preocupam com o fato de que alguns turcos, por exemplo, passados 30 anos no país ainda não falam o idioma alemão.

A polêmica tomou vulto quando o escritor judeu Ralph Giordano exigiu que a nova mesquita não seja construída, afirmando que este templo será tudo, menos um avanço em termos de integração.

Já o jornalista e escritor alemão Guenter Wallraff, que nos anos 80 denunciou as condições de trabalho dos imigrantes turcos na Alemanha fazendo-se passar por um deles, propôs fazer uma leitura pública dos “Versos satânicos” de Salman Rushdie na atual mesquita de Colônia.

Indagado se, com a proposta de ler numa mesquita um livro considerado blasfemo pelo Islã, visa a fazer algum tipo de provocação, o escritor negou.

“Não, faço isso em nome dos trabalhadores imigrantes que vivem na Alemanha, como pessoa que viveu sob a pele de um turco durante dois anos. Não sou um inimigo e sim um amigo dos imigrantes. (…) Meu livro, “Cabeça de turco”, se converteu num livro de culto em alguns países muçulmanos, especialmente na Turquia”.

“Os muçulmanos não conhecem os “Versos Satânicos”, de meu amigo Salman Rushdie. Nenhum religioso o leu. Estou convicto de que, inclusive, o aiatolá Khomeini, que condenou Rushdie à morte, não o leu. O livro não foi traduzido nem para o turco, nem para o árabe. Esta leitura terá um grande significado porque vai quebrar um tabu. A leitura terá um enorme efeito libertador”.

Fonte: Último Segundo

Comentários