Atualmente, não são poucos os europeus que consideram o islã uma ameaça. Os motivos para tal não são fáceis de evidenciar. No entanto, somente um esforço paciente de integração de ambos os lados poderá ajudar.

O fato de os suíços terem rejeitado através de plebiscito a construção de novos minaretes no país desencadeou na Europa um novo debate sobre o diálogo e a coexistência com o islamismo. Tal discussão parece confirmar a suspeita de que a desconfiança e a rejeição aberta em relação aos muçulmanos continuam a crescer.

As reações em outros países europeus permitem reconhecer um padrão comum. Na Alemanha, na Holanda, no Reino Unido e também na França, a indignação com a proibição de minaretes foi contrariada por especialistas ou por políticos pretensamente compreeensivos. Estes acham que “se deve entender os medos da população” de ser lentamente dominada pelo islamismo e passada para segundo plano.

Medo da religião alheia

Para contextualizar tais medos, é interessante observar a proporção entre o número de muçulmanos e de não-muçulmanos em diversos países europeus. Na França, a minoria islâmica é mais ampla, compreendendo quatro milhões de pessoas, o que corresponde a cerca de 6% da população. No Reino Unido, são cerca de 3% e na Alemanha, no máximo 5%.

Isso motivou o apresentador de TV alemão Michael Friedmann, de origem judia, a perguntar em um debate televisionado: “Onde está, afinal de contas, a autoestima da maioria cristã da população, que tem tanto medo de apenas 5% das pessoas que vivem aqui? Sobretudo levando em consideração que a maior parte desses 5% é constituída por cidadãos respeitáveis, burgueses, monótonos e dóceis – como seus vizinhos cristãos.”

Na verdade, trata-se do medo do desconhecido, da religião diversa e principalmente daquilo que os radicais de ambos os lados associam a essa religião – sobretudo desde o 11 de Setembro.

Em seu desconhecimento da religião alheia, há quem confunda o islã com o fundamentalismo islâmico. E não são poucos os que identificam o islamismo com o terrorismo ou pelo menos com a falta de respeito aos direitos humanos e com a intenção determinada de “islamizar” lentamente o “Ocidente cristão”.

Domínio da Europa

Aiman Mazyek, secretário-geral do Conselho Central dos Muçulmanos da Alemanha, afirmou que os motivos de tais preconceitos não se limitam à sensibilidade religiosa. “O problema é encarar o cidadão muçulmano como um enviado de um país islâmico. E esse não é o caso. Ele é um cidadão alemão, com direitos e deveres iguais aos dos outros cidadãos, sejam eles cristãos, judeus ou ateus.”

Na Suíça foi a questão dos minaretes. Na Alemanha, por repetidas vezes, a construção das próprias mesquitas. Tais exemplos mostram que a mera visibilidade de uma casa divina atípica parece provocar medo nas pessoas. Quanto maior a construção, maior o temor da suposta intenção do islã de dominar a Europa.

Isso é intensificado pelas declarações de alguns muçulmanos radicais, em alguns países europeus, de que o islã se tornará a primeira e principal religião e que, em vez da democracia, a Charia [código de leis do islamismo] se estabalecerá no continente.

Legado colonial

Alguns europeus veem prenúncios disso na pretensa falta de disposição dos muçulmanos de se integrar na sociedade europeia e na sua suposta tendência de viver numa “sociedade paralela”.

Nesse contexto, destaca-se na Holanda o populista de direita Geert Wilders, presidente do Partido da Liberdade. Ele não perde a oportunidade de advertir dos perigos do islã. Não está longe o dia em que os muçulmanos somarão 30% ou 40% da Europa, mudando assim todo o perfil do continente, profecia Wilders.

Como forma de prevenção, o populista de direita defendeu abertamente a expulsão dos muçulmanos que se recusarem a adaptar-se à cultura europeia. Tais declarações encontram cada vez mais anuência na Europa. No entanto, a presença de muçulmanos em diversos países do continente também se explica de outras formas.

Os quase dois milhões de muçulmanos do Reino Unido são um legado do passado colonial, durante o qual o país mantinha suas fronteiras abertas aos habitantes das colônias. Os primeiros muçulmanos da Holanda vieram da Indonésia, ex-colônia holandesa. Os argelinos que migraram para a França se tornaram cidadãos franceses na época da independência da Argélia.

Parte da sociedade

Na Alemanha, e durante as últimas décadas também na Holanda, os muçulmanos provêm em grande parte da imigração de trabalhadores estrangeiros estimulada por ambos os países durante um período. Só que agora eles passaram a ser parte integrante dessas sociedades.

Mais da metade dos muçulmanos que vivem na Alemanha tem passaporte alemão, o que também ocorre em outros países europeus. Dessa forma, o apelo pela integração vem ao encontro da exigência dos muçulmanos de serem notados e tratados como parte da sociedade.

Fonte: DW World

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