Um dos capítulos mais dolorosos das batalhas por indenizações ligadas ao Holocausto foi encerrado na sexta-feira, quando a KarstadtQuelle, a maior rede de lojas de departamentos da Alemanha, concordou em pagar US$ 118 milhões aos herdeiros americanos da família judaica Wertheim, que perdeu seu império de varejo para os nazistas em 1938.

Barbara Principe, a avó de Nova Jersey e descendente da família Wertheim que impetrou o pedido de indenização contra a KarstadtQuelle, disse que a empresa alemã demonstrou “caráter e bom-senso” no acordo. Principe e sua família não estavam cientes de sua situação até que um pesquisador descobriu um elo no início dos anos 90.

Seu pai, Guenther Wertheim, fugiu da Alemanha pouco antes da Segunda Guerra Mundial para se tornar um criador de galinhas na Costa Leste dos Estados Unidos. Ele não discutia seu passado com suas filhas, segundo a Claims Conference (conferência das compensações) judaica, que fechou o acordo em prol dos Wertheims.

O acordo – um dos maiores pagamentos de indenização ligados ao Holocausto para uma única família – encerra uma longa disputa em torno das propriedades dos Wertheims em Berlim, que incluíam uma série de lojas de departamentos e um prédio mundialmente famoso perto da Potsdammer Platz, um marco da cidade.

A KarstadtQuelle disse há nove meses que não pagaria a indenização, mas mudou de idéia após uma mediação de Helmut Kohl, o ex-chanceler alemão.

Gideon Taylor, vice-presidente executivo da Claims Conference, disse ao “Financial Times” que o “simbolismo histórico” do acordo foi mais importante do que o dinheiro. “A família Wertheim era um símbolo da vida judaica alemã antes do Holocausto e agora esta comunidade está sendo devidamente lembrada”, ele disse por telefone de Israel.

Georg Wertheim, um mercador judeu do nordeste da Alemanha, foi um dos poucos empreendedores a introduzir as lojas de departamentos na Alemanha no final do século 19, mas as propriedades foram tomadas pelos nazistas em 1938. Um ano depois, os membros da família fugiram da Alemanha para escapar da perseguição.

A KarstadtQuelle alegava até o ano passado que ela – e não a família Wertheim – era a herdeira legal da propriedade no chamado Triângulo Lenné da Potsdammer Platz, atualmente ocupado por apartamentos e hotéis de luxo.

Ela adquiriu a propriedade em 1994. Em agosto passado, quando um tribunal alemão ordenou que a KarstadtQuelle compensasse a família, a empresa disse que lutaria “até a última instância” para não pagar a indenização.

Thomas Middelhoff, o executivo-chefe da empresa, disse que o acordo marcou o “caso mais complexo de restituição” em meio a enxurrada de tais acordos desde a reunificação alemã, em 1990. Ele disse que o acordo “removerá a insegurança legal” para a KarstadtQuelle.

Fonte: Financial Times

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