Em um domingo, Saeed, Veronica, Farida e Matin se converteram ao cristianismo. O pastor Matthias Linke, da igreja evangélica livre de Kreuzberg, em Berlim, foi quem batizou os quatro refugiados iranianos e afegãos, vestidos de branco para a ocasião.

[img align=left width=300]http://www.swissinfo.ch/image/42751442/3×2/640/426/cf72dfebfeb2a4e98ee545d877d4df9c/qS/image-doc-iy7g2.jpg[/img]”Vocês creem do fundo de seus corações que Jesus Cristo é o seu Senhor e Salvador e querem segui-lo pelo resto de suas vidas? Se sim, digam sim”, perguntou o pastor.

Todos eles responderam “Sim!”, sob os aplausos dos fiéis. Em seguida, um por um, submergiram-se da cabeça aos pés em uma espécie de piscina.

“Sinto-me muito, muito feliz, me sinto… como posso explicar?”, declarou Matin logo após o batismo, com a mão no coração.
Foi na Grécia que este iraniano de 20 anos conheceu o cristianismo. Assim que chegou à Alemanha, entrou em contato com esta igreja.

Sua irmã, Farida, seguiu seus passos e em outubro os dois começaram a se preparar para o batismo, em alemão e farsi.
Farida queria escolher sua religião “livremente” e “estava à procura de uma igreja”.

“É uma razão muito importante para tornar-se cristão”, diz Matthias Linke. “Na maioria dos casos (dos refugiados que se convertem), há um forte desejo de decidir por si mesmos, de forma livre e pessoal, a orientação da sua vida”.

[b]’Cada vez mais’
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Muitos refugiados muçulmanos se convertem ao cristianismo na Alemanha, país que recebeu quase 900 mil demandantes de asilo em 2015. As igrejas não fornecem estatísticas, mas reconhecem que este é um fenômeno notório, senão maciço.

“Em nossa diocese, existem vários grupos de refugiados que estão se preparando para o batismo e há uma demanda crescente”, diz Felix Goldinger, um padre católico de Spire, no Palatinado (sudoeste).

Muitos vêm do Irã e do Afeganistão e alguns da Síria e da Eritreia.

“Atualmente sou responsável por um grupo de 20 pessoas, mas não sei quantos vão ser batizados”, diz ele.

Nesta diocese, a preparação dura quase um ano. “Durante este período, é importante que examinem a sua religião original, o Islã, e as razões que os levaram a querer mudar”, explica Felix Goldinger.

“Ficamos felizes, obviamente, que as pessoas queiram ser batizadas, mas para nós é importante que tenham certeza e clareza de sua decisão”, ressalta.

Este padre observa que “muitos falam sobre o que viveram em seu país, sobre os atos terroristas cometidos em nome da religião. Eles veem no cristianismo uma religião que fala de amor e respeito à vida”.

Alguns iranianos estiveram em contato com igrejas não reconhecidas no Irã – onde a conversão é proibida – e que precisaram fugir, explica Matthias Linke.

Outros conheceram cristãos durante sua peregrinagem para a Europa. Como Saeed, engenheiro aeronáutico afegão de 31 anos que viveu quatro meses na Turquia na casa de um cristão e que se interessou por sua religião. A leitura da bíblia o “ajudou nos momentos difíceis”, assegura.

[b]Desejo de integração
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As igrejas reconhecem que alguns desejos de conversão são motivados por um desejo de integração ou para reforçar um pedido de asilo, pois a apostasia ou blasfêmia são crimes puníveis com penas de prisão, morte ou tortura em países muçulmanos como o Irã, Mauritânia, Arábia Saudita ou Afeganistão.

Os grupos extremistas como o Estado Islâmico consideram a conversão um pecado punível com a morte.

“Há refugiados que pensam que a conversão ajudaria para que ficassem aqui, quando na verdade não é algo sistemático”, diz Felix Goldinger.

“Mudaram de religião para ficar na Alemanha? É uma questão importante para as autoridades”, afirma Matthias Linke, que é consultado com frequência pelo Serviço Federal de Migração e Refugiados (BAMF).

“Eu não tenho nenhuma garantia. Só posso perguntar se é uma decisão de coração. Depois do batismo, a maioria deles vivem como cristãos e vem à igreja”, diz ele.

Fora do templo, os convertidos tentam passar despercebidos e falam sob condição de anonimato.

“Eles podem se ver em situações difíceis nos centros de refugiados, onde a maioria das pessoas são muçulmanas”, explica Thomas Klammt, encarregado das questões de migração na União das Igrejas Evangélicas Livres da Alemanha (BEFG).
“Também é possível que temam por seus parentes que ficaram em seus países”, ressalta.

Matin permanece em contato com a sua família, especialmente com sua mãe, que “aceitou” a sua conversão. “Ela me telefona todos os domingos para perguntar se eu fui à missa”, ele ri.

[b]Fonte: AFP e Swissinfo[/b]

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