Projeto de ciclofaixa na rua da Catedral Anglicana da capital paulista irrita fiéis e moradores do Alto da Boa Vista.

A construção de uma ciclofaixa na zona sul de São Paulo provocou a mobilização da comunidade que frequenta a Catedral Anglicana e dos moradores do bairro Alto da Boa Vista.

Segundo o reverendo Aldo Quintão, líder religioso, a inclusão da rua Comendador Elias Zarzur no projeto de expansão de ciclofaixas pode dificultar o acesso dos fiéis, especialmente dos idosos, a Catedral Anglicana de São Paulo.

[img align=left width=300]http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/3n/uk/bj/3nukbjyr0cdfeosda2xsp40vj.jpg[/img]O reverendo Aldo Quintão aponta dois problemas principais para o projeto da prefeitura: a falta de ciclistas na região e a dificuldade que os fiéis terão para frequentar a igreja. “As pessoas terão de parar os carros a 500 metros, a 800 metros da igreja. Recebemos idosos cadeirantes ou que usam andadores. Como eles vão fazer se a ciclofaixa for feita na rua da igreja e eles tiverem de se deslocar muito? Isso é uma aberração”, diz. Segundo o líder religioso, pelo menos 20% dos fiéis são idosos.

A catedral está aberta aos fiéis todos os dias e reúne pelo menos 20 mil pessoas por mês, entre missas, batizados e casamentos. A ciclofaixa naquele endereço, explica Aldo Quintão, foi uma escolha errada, que não levou em consideração a verdadeira demanda do local. “É um bairro pequeno, com cerca de 700 moradias. E a igreja fica em uma rua de pouquíssimo movimento. Uma ciclofaixa ligaria nada a coisa nenhuma. Nem sequer fizeram uma consulta para saber se há a necessidade de uma ciclofaixa e que tipo de efeito ela teria na região”, lamenta Quintão. Na catedral, segundo o reverendo, há quatro vagas para estacionar bicicleta, mas elas nunca são usadas por falta de cicilistas.

Há duas semanas o reverendo soube do projeto por meio da vereadora Edir Sales (PSD). Ele já consegui em menos de uma semana a assinatura de duas mil pessoas. A partir desta segunda-feira (9), Aldo Quintão promete ir de porta em porta no Alto da Boa Vista para aumentar a adesão e tentar barrar o projeto do poder público. “Faremos tudo para evitar a ciclofaixa. Será uma mobilização do bem. Vou procurar a família do secretário de Transportes [Jilmar Tatoo], levarei cantores para uma apresentação no hall da Câmara Municipal. Se precisar, convoco motoristas para que estacionem seus carros na rua e evitem que as máquinas da prefeitura trabalhem. Vamos resistir!”, avisa o reverendo.

Frequentador da igreja, o engenheiro Milton Barbieri também é contrário ao projeto. “Será terrível se a ciclofaixa for construída. Há muita gente que frequenta a igreja e tem problema de locomoção. São Paulo não precisa de ciclofaixa. A cidade não tem topografia para isso”, avalia.

Segundo Aldo Quintão, a expansão das ciclofaixas deveria levar em consideração locais onde bicicletas e carros disputam espaço. Mas, segundo ele, isso não ocorre na rua Comendador Elias Zarzur: “Não há bicicletas, há poucos carros. É como construir uma creche em um asilo. Os idosos não terão filhos, não precisarão de uma creche”, compara. O reverendo sugere outras regiões para a ciclofaixa. “Temos creches em Paraisópolis, Jaguaré e Vila Brasilândia. São bairros com alta densidade populacional, mal servidos de transporte público e com potencial ciclístico. Por que a prefeitura não faz ciclofaixa nessas regiões?”, pergunta.

[b]Dogmas anglicanos e a abertura religiosa
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Aldo Quintão é reverendo na Catedral Anglicana de São Paulo há 18 anos. Além das atividades na igreja, que tem 13 funcionários, administra três creches na periferia de São Paulo. Aos domingos de manhã, sua missa é em inglês e transmitida pela internet.
Diferentemente da Igreja Católica Apostólica Romana e das igrejas evangélicas, a Igreja Anglicana (a mesma seguida pela família real britânica) é progressista. Crianças filhas de pais separados ou de mães sem companheiros podem ser batizadas. Fiéis não são discriminados por sua orientação sexual. Divorciados podem se casar e mulheres podem ser padres. O príncipe Charles, por exemplo, casou-se novamente.

“Nossa igreja é muito procurada por pessoas de religiões diferentes que querem se casar, como judeus e católicos ou católicos e evangélicos. É como um espaço ecumênico”, explica o reverendo.

[b]Fonte: iG[/b]

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