A renúncia da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que é evangélica da Assembléia de Deus, foi descrita pelo jornal britânico The Independent como um “golpe para o futuro do planeta”.
No editorial de título “Salvem os pulmões de nosso planeta”, publicado nesta quinta-feira, o jornal destaca que, cinco anos atrás, a ministra foi nomeada como o “anjo da guarda” da Amazônia, mas desde então vinha travando batalhas com fazendeiros e madeireiras.
“Ela freqüentemente parecia uma voz solitária no governo brasileiro – derrotada em votações como a introdução de grãos geneticamente modificados, a construção de uma nova usina nuclear e em projetos maciços de infra-estrutura, incluindo duas grandes represas para hidrelétricas e a construção de uma nova estrada na floresta.” Segundo o jornal, a Amazônia deveria ser uma preocupação mundial.
“É fácil para as nações ricas condenar uma economia emergente que sucumbe às pressões comerciais e abandona o meio ambiente. Mas este não é o problema de apenas um país. As mudanças climáticas são o maior fracasso do mercado já visto no mundo; aqueles que poluem, geralmente, não são os que pagam. A Amazônia é um recurso precioso para o mundo todo e pelo qual nós todos devemos assumir responsabilidade”, afirma o editorial.
O Independent ainda cita um relatório encomendado pelo governo britânico, o Sterns Report, que recomenda o fim do desmatamento como a melhor e mais barata forma de combater o aquecimento global – e que não exige sequer inovações tecnológicas.
Essa iniciativa consumiria “apenas a vontade política e cerca de US$ 80 bilhões, uma conta relativamente baixa se for paga por todo o mundo”, afirma o jornal.
“O relatório Stern identificou onde o dinheiro deveria ser gasto: esclarecer os direitos de propriedade sobre florestas, fortalecer o cumprimento da lei e pagar, a partir de fundos públicos, para conter a atração do dinheiro de interesses já fixados”, diz o Independent.
“O Brasil não vai pagar”, diz o jornal. “E por que deveria pagar por algo que vai beneficiar todo o mundo?” O editorial conclui dizendo que “chegar a um acordo internacional viável é o desafio para o próximo Kyoto. Mas uma coisa é clara. Esta parte do Brasil é muito importante para deixar para os brasileiros. Se perdermos as florestas, perdemos a luta contra o aquecimento global.” A renúncia da ministra também foi destaque em vários outros jornais. Também na Grã-Bretanha, o The Guardian afirma em reportagem que o “medo pelo futuro da maior floresta tropical do mundo aumentou ontem, depois da renúncia repentina da ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva”.
Na França, o Le Monde destaca que a carta de demissão de Marina Silva chegou ao presidente Luís Inácio Lula da Silva na mesma hora em que o anúncio era feito à imprensa. Na Espanha, o El País afirma que Lula “deu as costas à maior defensora da Amazônia”, destacando que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, “sua rival no governo”, é quem ganha com a demissão.
Em artigo relacionado, o El País destaca ainda a “volatilidade” do governo Lula, afirmando que os ministros “não duram muito”.
Fonte: BBC Brasil