Não falta informação, falta um plano de vida. A frase simples e objetiva ajuda a entender por que adolescentes repetem a experiência de engravidar com menos de 18 anos. Em São Paulo, a reincidência entre as jovens têm aumentado.

Pesquisa da médica Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Saúde do Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde, com mais de 350 mães adolescentes, revela que 40% das jovens voltam a engravidar dois anos depois da primeira gravidez. Em geral, de pais diferentes.

“As jovens que enfrentam a gravidez precoce acabam abandonando a escola. Com isso, praticamente eliminam uma das poucas chances de reverter o quadro negativo imposto pela primeira gestação”, afirma Albertina.

A médica atribui a reincidência à falta de perspectiva de futuro, principalmente nas comunidades pobres: “A informação existe e a maioria das jovens mães sabe o que deve fazer para evitar a gravidez. Mas, em situação de estagnação no desenvolvimento pessoal, sentimento que se agrava quando a adolescente deixa a escola, a auto-estima se deteriora, e a probabilidade de uma nova gravidez cresce”, diz.

O levantamento mostra ainda que quase 90% das crianças frutos de gestações precoces são criadas exclusivamente pela mãe, sem a ajuda do pai. “Quem assume a criança é a menina e a família da menina. Na classe média alta, até para evitar dependência, a família financia os cuidados da criança. Na classe pobre, a menina se sente culpada, e acaba assumindo tudo”, comenta.

Trabalhar a auto-estima, mostrando que é possível recomeçar mesmo com um filho e montar um plano de vida, é uma forma de conscientizar as jovens e evitar a reincidência. Segundo a especialista, as iniciativas de conscientização são primordiais.

O Instituto Possível, idealizador do Projeto Jovens Mães, atua com o objetivo de conscientizar adolescentes sobre os riscos da gravidez precoce e de apoiar e cuidar das gestantes de 10 a 18 anos.

“Mais do que educação sexual, trata-se de uma ação social de prevenção, que busca formar grupos multiplicadores de informação e estimular as empresas públicas e privadas a investirem em programas de prevenção”, explica Valéria Vorlander, diretora do Instituto.

A gravidez na adolescência é um dos grandes problemas sociais da atualidade. Segundo dados do IBGE, a cada 17 minutos uma jovem se torna mãe no Brasil, a cada dia, 140 meninas têm gravidez interrompida; a cada hora, seis adolescentes entram em processo de aborto. “O aborto ou complicação no parto são a 5ª causa de mortes entre adolescentes ou 6% do total de óbitos entre jovens”, lembra Valéria.

Os dados do IBGE de 2006, em comparação ao ano de 2005, também apontam que as mães de até 20 anos são responsáveis por cerca de 20% dos nascimentos no país. Ou seja, para cada cinco crianças nascidas no Brasil, uma foi gerada por mãe jovem. Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos. O número de meninas grávidas com menos de 15 anos cresceu no país. Entre 1998 e 2006, o número aumentou 37,4%, segundo o IBGE.

Fonte: iTodas

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