As mulheres têm sido, historicamente, discriminadas em nome da religião, e as grandes confissões do mundo precisam promover uma maior igualdade de gênero, defenderam vários teólogos, em uma conferência inter-religiosa em Madri, nesta quinta-feira.

“As mulheres têm sido as grandes esquecidas e marginalizadas das religiões”, afirmou o diretor da cátedra de Teologia e Ciência das Religiões da Universidade Juan Carlos III de Madri, Juan José Tamayo, em uma mesa redonda no segundo dia da Conferência Internacional para o Diálogo, na capital espanhola.

As religiões “estão organizadas de maneira hierárquica e patriarcal, com exclusões das mulheres em todos os campos do saber e dos quefazeres religiosos”, acrescentou Tamayo, nessa conferência que tem como objetivo aproximar as três grandes religiões monoteístas.

Agora, no início do século XXI, todos os homens, mas especialmente os religiosos, “devem devolver a dignidade à mulher”, frisou, acrescentando que os textos sagrados das grandes religiões foram “deformados pelos homens”.

“Temos de voltar atrás em nossos respectivos livros sagrados para restaurar a idéia de igualdade e não discriminação”.

O professor saudita de Teologia Ahmad Ibn Saifuddin concordou em que o papel da mulher foi mal-entendido e que os líderes religiosos devem reler seus livros sagrados para esclarecer a posição da mulher.

“Eva nasceu de Adão, de modo que mulher e homem são iguais”, comentou, explicando que, simultaneamente, o Islã põe a mulher “em um alto nível” porque é mãe.

A teóloga e pastora protestante Esther Ruiz destacou que fazer a vontade de Deus se confunde com fazer a vontade do homem.

Na religião cristã, “a existência de repressão e discriminação” se plasma “na falta de possibilidades para que as mulheres desenvolvam, com plenitude, os dons que Deus lhes concedeu para realizar seu projeto do Reino dos Céus”, acrescentou Esther.

“Em muitas ocasiões, utilizou-se a religião e a cultura para justificar esse atentado contra a vontade criadora de Deus de uma humanidade livre e se impôs uma visão parcial, masculina e patriarcal do que Deus queria”, lembrou.

Na mesa redonda, Amparo Ruiz, advogada diretora do Centro Budista, disse que essa religião “não faz diferenças entre os homens e as mulheres”.

A Conferência Internacional para o Diálogo foi organizada pela Liga Islâmica Mundial por iniciativa do rei Abdullah, da Arábia Saudita, em cujo país estão as duas mais sagradas mesquitas do Islã, em Meca e Medina.

Pelo menos 200 pessoas, entre elas representantes das três grandes religiões monoteístas, mas também do budismo, participam do evento. A lista de personalidades inclui o secretário-geral do Congresso Judeu Mundial, Michael Schneider, e o cardeal Jean-Louis Tauran, responsável pelo diálogo entre Islã e Vaticano.

A conferência foi inaugurada na quarta-feira pelo rei Abdullah, que pediu um “diálogo construtivo” das grandes religiões do mundo.

Fonte: AFP

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