Em um resultado que provavelmente reviverá um debate de muitos anos sobre a segurança de medicamentos prescritos para depressão, autoridades de saúde relataram na quinta-feira que o índice de suicídios entre americanos com idades entre 10 e 24 anos aumentou 8% de 2003 a 2004, o maior salto em mais de 15 anos.

Alguns psiquiatras argumentam que o motivo para o aumento é o declínio na prescrição de medicamentos como Prozac para jovens desde 2003, deixando mais casos sérios de depressão sem tratamento. Outros dizem que é impossível saber se o aumento está associado aos padrões de prescrição de antidepressivos. O aumento de um ano nos suicídios pode ser uma flutuação estatística, eles dizem, e não o início de uma tendência.

O aumento foi particularmente acentuado entre os adolescentes, especialmente as meninas, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que divulgou os números. O momento do aumento coincidiu com o debate público nos Estados Unidos e no exterior sobre se os antidepressivos aumentavam o risco de suicídio em um pequeno percentual de jovens que os tomavam. No final de 2004, após audiências públicas, a Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos, pediu aos laboratórios fabricantes que colocassem tarjas pretas de alerta proeminentes nos rótulos dos medicamentos, alertando sobre a possibilidade de aumento do risco de suicídio em menores.

De lá para cá, os especialistas vêm discutindo sobre se a controvérsia em torno dos medicamentos e os alertas da agência reguladora salvaram vidas ou afugentaram pacientes que podiam se beneficiar com o tratamento com antidepressivos, levando a mais suicídios. Em um estudo apresentado inicialmente em uma conferência científica em dezembro passado e publicado na quarta-feira no “The American Journal of Psychiatry”, uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que uma diminuição de poucos pontos percentuais na prescrição de antidepressivos para menores coincidia com um aumento de 14% nos suicídios nos Estados Unidos; na Holanda, o índice de suicídios subiu quase 50% entre os jovens quando os índices de prescrição começaram a cair, revelou o estudo.

Ileana Arias, diretora do Centro Nacional para Prevenção e Controle de Ferimentos dos CDC, que produziu o novo relatório, disse que foi impossível apontar o que causou o aumento.

“A questão é que há uma grande variedade de fatores que podem ser responsáveis pelo aumento, e não estamos cientes de ninguém que tenha feito um estudo que os considere”, disse Arias.

Além da mudança nos hábitos de prescrição, ela disse, outras mudanças poderiam incluir um aumento nos índices de desordens de saúde mental ou aumento nos índices de consumo de álcool ou drogas.

O dr. Thomas Laughren, diretor da divisão de produtos psiquiátricos da FDA, disse em uma teleconferência com repórteres que a agência precisaria analisar mais dados com o tempo, associando declínios nas prescrições ao aumento do risco de suicídio antes de revisar qualquer uma de suas decisões. Em janeiro, após uma longa revisão dos dados dos testes de medicamentos, um painel da FDA votou por estender o alerta de tarja preta para inclusão de adultos até 24 anos – e também incluir alertas nos rótulos de que depressão não tratada era um fator de risco de suicídio.

“Simplesmente não é possível chegar a conclusões casuais” a partir dos novos dados dos CDC, disse Laughren.

A análise da agência de controle de doenças apontou que em 2004 ocorreram 4.599 suicídios entre americanos com idades entre 10 e 24 anos, um aumento em comparação a 4.232 em 2003, para uma taxa de 7,32 entre 100 mil pessoas de tal faixa etária. Em anos anteriores, a taxa tinha caído de 9,48 por 100 mil, em 1990, para 6,78 por 100 mil, em 2003.

Ao longo do ano passado, vários estudos sugeriram que os medicamentos antidepressivos apresentam maior probabilidade de reduzir o risco de suicídio do que de aumentá-lo.

“Nós estamos começando a obter uma história bastante coesa, a de que o período de maior risco de suicídio é pouco antes do início do tratamento, e o risco na verdade cai assim que a farmacoterapia ou psicoterapia é iniciada”, disse Robert Gibbons, um professor de bioestatística e psiquiatria da Universidade de Illinois, em Chicago, e o principal autor do estudo publicado na revista de psiquiatria.

Mas Andrew C. Leon, um pesquisador de psiquiatria do Weill Cornell Medical College em Nova York, disse que ainda é cedo demais para falar de uma ligação, se é que há, entre o uso de antidepressivos e suicídio. “Estes são eventos raros, os suicídios, e é muito difícil separar flutuações aleatórias nos números do início de uma tendência real”, disse Leon.

Fonte: The New York Times

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