O encarregado do Vaticano para as relações com o Islã chamou na terça-feira o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams (foto), líder dos 77 milhões de anglicanos do mundo, de equivocado e “ingênuo” por sugerir que seria inevitável incorporar alguns aspectos da sharia (lei islâmica) ao direito britânico.

O cardeal Jean-Louis Tauran disse também a jornalistas que um novo órgão permanente reunindo católicos e muçulmanos deve ajudar a evitar mal-entendidos no futuro.

“Acho que foi um erro, um erro porque, acima de tudo, é preciso perguntar que tipo de sharia, e então isso foi um pouco ingênuo”, disse Tauran.

O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, provocou polêmica em círculos políticos e religiosos ao declarar em fevereiro que a lei islâmica poderia ser parcialmente adotada por muçulmanos da Grã-Bretanha. O jornal popular Sun em seguida iniciou uma campanha por seu afastamento.

“Pode-se entender suas boas intenções, mas me parece que ele não levou em consideração eles mesmos [os muçulmanos], o sistema judicial inglês, ou a realidade da sharia”, disse Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso. A sharia, que se baseia principalmente no Alcorão, mas também em ditos e ações do profeta Maomé, é atacada por muitos no Ocidente por causa do tratamento dado às mulheres e das punições por adultério e apostasia.

A polêmica acabou criando um debate mais amplo sobre a integração dos 1,8 milhão de muçulmanos da Grã-Bretanha. A questão assumiu maior urgência depois dos atentados suicidas, realizados por militantes islâmicos nascidos no próprio país, que mataram 52 pessoas em julho de 2005.

“Não é só uma questão de boa vontade”, disse Tauran. “Há aspectos judiciais que não são reconciliáveis [com a sharia].”

Williams depois tentou retificar sua posição, dizendo que não defendia sistemas jurídicos paralelos e não dava aval a punições cruéis, como as que ocorrem na Arábia Saudita e Irã. Mas disse que não se arrependia de ter abordado o tema.

Fonte: Reuters

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