O Vaticano reagiu com fúria a uma reportagem publicada por uma revista italiana que buscou mostrar que o que alguns padres dizem aos católicos no confessionário nem sempre é o mesmo que a Igreja prega em público.

Para escrever a matéria de capa da edição desta semana da L’Espresso, o repórter Riccardo Bocca foi a 24 igrejas em cinco grandes cidades italianas e confessou pecados que não cometeu, ou então inventou dilemas éticos para os padres.

Em uma igreja em Nápoles, ele disse ao padre que se sentia culpado pela morte de seu pai. Falou que a família deu autorização para um médico desligar os aparelhos que mantinham seu pai vivo, depois de cinco anos paralisado sem poder sair da cama ou respirar sozinho.

Embora a Igreja oficialmente condene a eutanásia, o padre que ouviu a confissão disse ao repórter para não se preocupar demais porque Deus seria o juiz final.

Em outro confessionário, o jornalista se fez passar por uma pessoa com HIV e ouviu do padre que usar ou não camisinha, para não transmitir o vírus da Aids à mulher que amava, era “uma questão muito pessoal de consciência”.

Oficialmente, a Igreja ensina que as melhores maneiras de impedir a transmissão da Aids são a abstinência e a monogamia, não o uso de camisinha.

O repórter disse que o artigo é um trabalho de reportagem investigativa, mas o Vaticano reagiu com força.

Um editorial no jornal do Vaticano, l’Osservatore Romano, disse que o trabalho profanou o sacramento da penitência em nome de um “ignóbil furo jornalístico”.

“Vergonha, não há outra palavra para expressar nosso repúdio a algo repulsivo, indigno, desrespeitoso e extremamente ofensivo”, disse o jornal do Vaticano.

Bocca disse que não foi sua intenção demonstrar desrespeito pela Igreja e seus sacramentos, mas “mostrar as dificuldades que esses sacerdotes encontram quando procuram cumprir seus deveres com consciência”.

Sobre o homossexualismo, um padre lhe disse: “O homossexualismo é uma tendência que constitui uma expressão humana válida. Existem até padres homossexuais e freiras lésbicas.”

A Igreja ensina que a homossexualidade não é pecado, mas os atos homossexuais, sim.

Com a exceção do aborto, que foi condenado por todos os 24 padres que ele consultou, o jornalista recebeu conselhos conflitantes sobre questões morais como o divórcio, a prostituição e as pesquisas com células-tronco.

Fonte: Reuters

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