Fake News
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Um vídeo viral no Facebook acusa o Datafolha de manipular pesquisas eleitorais ao entrevistar um número supostamente reduzido de evangélicos, mas a afirmação é enganosa. O instituto não estabelece cotas de religião nos levantamentos de intenção de voto para presidente, ainda que divulgue dados específicos sobre o desempenho dos pré-candidatos entre católicos e evangélicos. A metodologia leva em conta somente distribuição geográfica, sexo, idade, escolaridade e renda para garantir uma amostra representativa do País.

Na pesquisa mais recente do Datafolha, 50% dos entrevistados se declararam católicos; 27% como evangélicos; 3% como espíritas ou kardecistas; 1% cada entre adventistas, candomblé, testemunha de Jeová, umbanda e ateus; 6% responderam outras religiões; e 11% não tinham religião. Os porcentuais variam entre cada pesquisa, pois não é um elemento considerado ao decidir quem deve ser entrevistado aleatoriamente nas ruas.

A pesquisa mais recente teve a participação de 2.556 pessoas em 181 cidades brasileiras, entre os dias 25 e 26 de maio deste ano. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com 48% das intenções de voto no 1º turno, seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 27%, e de Ciro Gomes (PDT), com 7%. Os demais candidatos não ultrapassam 2%. A margem de erro é de dois pontos porcentuais.

Os pesquisadores do Datafolha perguntam aos participantes sobre a sua religião para depois serem fornecidos dados sobre o desempenho dos pré-candidatos a presidente da República em cada segmento. O levantamento indica, por exemplo, que Bolsonaro soma 39% das intenções de voto entre os evangélicos, contra 36% de Lula. Nesse recorte, a margem de erro sobe para quatro pontos porcentuais, o que configura empate técnico entre os dois.

Boato desinforma sobre recorte evangélico

Sem provas, um youtuber bolsonarista espalha nas redes sociais que o Datafolha estaria promovendo “fraude” ao supostamente encolher o número de evangélicos entrevistados para beneficiar o pré-candidato do PT. Ele cita outro levantamento do instituto Datafolha, realizado nos dias 5 e 6 de dezembro de 2020, especificamente sobre a religião da população brasileira. Nesse caso, estimou-se que 31% da população no Brasil era evangélica. Foram realizadas 2.948 entrevistas em 176 municípios, e a margem de erro era de dois pontos porcentuais. A participação dos evangélicos se situava, portanto, entre 29% e 33%.

Ocorre que esse resultado não tem relação com a pesquisa de intenção de voto para presidente da República realizada pelo Datafolha na semana passada, entre os dias 25 e 26 de maio. O instituto não determina cotas de religião ao entrevistar as pessoas na rua, apenas coleta a informação para a análise do desempenho dos pré-candidatos em cada segmento, ou seja, posteriormente faz um recorte dos resultados.

“Não temos cotas para religião”, confirmou ao Estadão Verifica a diretora do Instituto Datafolha, Luciana Chong. “Na pesquisa atual, temos 27% que se declaram evangélicos. Em março, esse índice era de 26%, por exemplo. A resposta é espontânea, e essas variações podem acontecer e estão dentro do previsto.”

Na maioria dos casos, a distribuição religiosa medida pelo Datafolha em dezembro de 2020 se aproxima da amostra da pesquisa eleitoral de maio de 2022. O porcentual de 50% (48%-52%) de católicos permaneceu exatamente o mesmo, enquanto a população sem religião era de 10% (8%-12%) e representou 11% dos entrevistados em maio.

Além dos evangélicos, houve mudança no segmento “outras religiões”: eram 2% (0%-4%) da população em dezembro de 2020, mas tiveram 6% de participação na pesquisa eleitoral recente.

Como é a metodologia do Datafolha

Qualquer pessoa pode verificar a metodologia usada pelo Datafolha em suas pesquisas eleitorais com base no registro obrigatório disponibilizado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O levantamento do instituto realizado entre 25 e 26 de maio aparece com o código BR-05166/2022.

O instituto informa que levou em conta cinco características na seleção da amostra de 2.556 participantes a fim de representar adequadamente o eleitorado brasileiro: distribuição geográfica, sexo, idade, grau de instrução e nível econômico. São observados dados fornecidos pelo TSE e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de levantamentos próprios.

Primeiro, o Datafolha realiza uma estratificação por região (Norte, Centro-Oeste, Sul, Sudeste e Nordeste) e natureza do município (capital, região metropolitana ou interior) e depois sorteia as cidades, os bairros e os pontos onde serão aplicados os questionários. As pessoas são abordadas aleatoriamente na rua, de acordo com cotas de sexo e faixa etária.

No momento da análise dos dados, o instituto pode eventualmente corrigir o “peso” das respostas caso as entrevistas resultem em porcentuais fora do padrão para alguma das características do plano amostral.

Essa etapa é importante para reduzir o risco de viés — em um exemplo grosseiro, não seria correto que uma pesquisa de abrangência nacional tivesse mais respostas de entrevistados com ensino superior, considerando que são minoria no Brasil; as diferenças são bem menores na prática por ser uma amostra aleatória e com centenas de entrevistas.

O registro no TSE informa ainda que o nível de confiança é de 95%. O termo significa que, caso fossem realizados 100 levantamentos idênticos ao mesmo tempo, a tendência é de que 95 deles apresentem os mesmos resultados, levando em conta a margem de erro máxima da pesquisa, de dois pontos porcentuais para mais ou para menos em cada resposta.

Fonte: Estadão

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