Desde a eleição do primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama, uma série de incidentes racistas vem ocorrendo no interior do país. Fotos de Obama queimadas em cruzes e forcas, pichações dizendo “matem Obama” e xingamentos racistas em escolas públicas estão se multiplicando.

Segundo o Southern Poverty Law Center, entidade que monitora o racismo e os grupos extremistas, ocorreram cerca de 200 incidentes significativos desde a eleição, há duas semanas, o que representa um número muito acima da média.

“Os racistas estão fora de si porque o maior pesadelo deles virou realidade. Temos um presidente negro. Além disso, os brancos serão minoria no país em 2042” , disse Heidi Beirich, diretora de pesquisas do Southern Poverty Law Center.

“Esse multiculturalismo é a morte do sonho dos supremacistas de ter uma grande nação branca.”

Heide lembra que, há 50 anos, os EUA eram um país segregacionista, onde brancos não dividiam o banheiro com negros, não tomavam água no mesmo bebedor e nem freqüentavam às mesmas escolas.

Um dia depois da eleição, Denene Millner, da cidade de Snellville, na Geórgia, foi vítima de dois incidentes raciais. De manhã, um menino no ônibus escolar disse a sua filha de 9 anos: “Espero que Obama seja assassinado.” À noite, alguém arrancou as placas de Obama do gramado de sua cunhada e deixou na porta duas caixas de pizza com fezes humanas.

No mesmo dia, quatro alunos da Universidade Estadual da Carolina do Norte admitiram ter escrito comentários anti-Obama em mural. Uma das frases era: “Vamos dar um tiro na cabeça desse negro”.

Em uma cidade perto de Los Angeles, foram pichadas suásticas, xingamentos e frases como “volte para África” nas calçadas. Na Universidade do Alabama, os incidentes envolveram uma professora, Marsha Houston. Logo depois da vitória de Obama, ela pôs um pôster do presidente eleito e de sua família na porta de seu escritório. O pôster foi arrancado. Ela pendurou outro, e alguém escreveu palavrões e ameaças de morte contra Obama.

Parte dos incidentes é de autoria dos supremacistas brancos, grupos racistas radicais como a tradicional Ku Klux Klan. Um dos sites mais populares entre os supremacistas, o Stormfront.org, ficou fora do ar no dia seguinte à eleição por causa do excesso de acessos. O site ganhou 2 mil novos integrantes em apenas um dia.

Radicais

Mas, muitos dos agressores não são radicais, são racistas entre os quais a eleição de um negro desencadeou ações agressivas. “O estresse econômico e a eleição de um negro deixaram os preconceitos mais aparentes”, disse Brian Levin, diretor do Centro de Estudos sobre Ódio e Extremismo da Universidade Estadual da Califórnia, em San Bernardino.

Segundo ele, os lugares mais afetados por esse tipo de incidente são as regiões onde ocorreram aumento recente da diversidade étnica, como em cidades do Meio-Oeste e vilarejos rurais no Nordeste.

No Southern Poverty Law Center, os especialistas estão preocupados com uma possível radicalização dos supremacistas brancos. “Como a via política está muito comprometida por causa da eleição de um presidente negro, eles podem se desesperar e partir para ações mais extremas”, afirmou Heide.

O centro se prepara para um período com maior número de incidentes de terrorismo doméstico com inspiração racista, como foi o caso de Timothy McVeigh, que matou 168 pessoas ao explodir um prédio público em Oklahoma, em 1995.

De acordo com analistas, os incidentes ganharam impulso com a entrada de Sarah Palin na campanha. O discurso ultraconservador da vice da chapa republicana exaltou os ânimos de muitos partidários durante seus comícios. Era comum ouvir gritos do tipo “cortem a cabeça dele” e “terrorista”, todos em referência a Obama.

Fonte: Estadão

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